quarta-feira, 16 de julho de 2008

ao acaso.

Como seria se o sol brilhasse apenas quando eu sentisse frio.
E o copo de água estivesse ao alcance sempre que a sede ostentasse em se fazer presente.
Seriam como viver grandes amores em poucas horas,
Regadas às mãos e suor que passam num desatino profundo por nosso corpo.
Perdidos entre a fumaça e a música alta, que invade o horizonte paralelo.
Foi a primeira vez, e passou.
No dia seguinte, sem pensar em nada, tudo corre, e por ai vai.
O re-encontro, a luz, dessa vez, pouco mais confusa,
O som pouco mais baixo, e os olhos se cruzam.
Por debaixo dos olhares atentos, o abraço mais forte regado, dessa vez de surpresa.
Tudo certo: momento, bebida, amigos e você.
No outro dia, acordo me perguntando por que seria assim...
E o telefone toca,
A voz cada vez mais doce, tentando invadir uma essência, só pra ser.
È algo surpreendente que vem e vai...
Como se fosse um kamikaze de tudo o que vivemos,
Trazendo de volta a horas – movida por uma eternidade que é só nossa.
Pra ficar, guardadinho aqui, dentro do peito...
Exalando saudade.
Dentro do abraço de adeus que não poderá ser dado.
Lembrarei de ti a cada copo de água que insistir em não beber.
E a cada flash te luz que se prender em minha retina,
E finalmente a cada angústia que passarei sem dor,
Afinal, foi forte, intenso, denso e feliz.
A partida é quem traz a tristeza, a dor e a saudade...

Um comentário:

  1. A Menina e o Pássaro Encantado

    (Rubens Alves)

    Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta, vão embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades...

    Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.
    "– Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você..".

    E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro. Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça.
    "... Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes." E de novo começavam as estórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouví-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre. Mas chegava sempre uma hora de tristeza.

    "–Tenho que ir", ele dizia. "- Por favor não vá, fico tão triste, terei saudades e vou chorar....".
    "–Eu também terei saudades", dizia o pássaro.
    "–Eu também vou chorar. Mas eu vou lhe contar um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... E o meu encanto precisada saudade, aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudades. Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar." Assim ele partiu.

    A menina sozinha, chorava de tristeza à noite, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.
    "- Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz".
    Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com estórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz. Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro.
    "– Ah! Menina... Que é que você fez?
    Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias... Sem a saudade, o amor irá embora..." A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente. Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio; deixou de cantar. Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo...Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola."- Pode ir, pássaro, volte quando quiser...".

    "- Obrigado, menina, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita. E você se enfeitará para me esperar..."

    E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia."- Que bom", pensava ela, "meu pássaro está ficando encantado de novo...".E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos; e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos..."- Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje..." Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro. Porque em algum lugar ele deveria estar voando. De algum lugar ele haveria de voltar.

    AH! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama...E foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento.- Quem sabe ele voltará amanhã.... E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.

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