sábado, 17 de julho de 2010

Vin Rosé.

"... o convite do silêncio exibe em cada olhar. Guardei sem ter porque, nem por razão ou coisa outra qualquer, além de não saber como fazer pra ter um jeito meu de me mostrar. Que nunca soube dar o amor que tive e vi sem me deixar sentir, sem conseguir provar, sem entregar. E repartir."
(Nando Reis)

Tirei os sapatos porque estavam ja me apertando os pés, ao mesmo tempo sorri, sorriso largo, escancarado como se tivesse realmente apaixonado. Na verdade so tinha me dado conta que estava me sentindo de alguma forma, feliz... Não posso dizer que não, mas existem rastros de que alguma forma ele mecheu comigo. Talvez a forma diferente de encarar os fatos, as minhas, ou as dele. De repente os dois se encontraram ou seja apenas delirio meu.
Ja era tarde, uma tarde de domingo, havia tanto sol que ardiam os seus olhos, eram tão claros que doiam também os meus, de tão claros, chegavam a ser transparentes...
Ficava sem jeito todas as vezes em que ele arrumava uma desculpa pra me olhar nos olhos. Aqueles azuis como nunca antes haviam entrado aos meus olhos, como forma de hipnose.
Com esse mesmo sorriso largo no rosto, falamos de coisas que nos passavam na mente, como se nós nos conhecêssemos afinco, a conversa fluia e sol continuava la, perpétuo e intacto.
Não me lembro da quantidade de cigarros que ele fumou, na verdade falamos sem parar e todo tempo. Não houve o espaço do silêncio. Estavamos ali e nós dois bem sabíamos o que nos deixara anestesiado quanto ao resto do mundo. Mas nenhum dos dois em momento algum entregaria os pontos. Não foram precisas palavras dificeis, so de se levar deixar pelo vento momentâneo inexistente que os dois criaram... 
Fechei os olhos varias vezes, mas eles permaneceram abertos enquanto eu o observava intensamente, vivemos sonhos que nunca sonhamos... A hora da chegada e da partida. Eu pararia ali, naquela garrafa de rosé. 
O perfume se confundia enquanto os corpos pediam uma certa aproximação que talvez aconteceria mais tarde. Ele tinha o brilho nos olhos, olhos cor-do-céu, como os da infância, talvez pouco mais transparêntes, mais intensos. Os cabelos claros, embora ralos, e a pele mais rosada que ja vi na vida. Usava uma polo rosa e uma bermuda quase-social, como de quem acaba de deixar o terno-e-a-gravata pra respirar um pouco, sabe?
Não demorou muito pra terminarmos com a garrafa, talvez ambos com a  pressa de poder se aproximar ao maximo e de se entregar, sentindo cada pedacinho daquele precioso tempo que percorria o corpo, a alma. Saimos de uma forma ainda mais apressada do que a chegada do local estratégico onde ele tentava de todas as formas ganhar minha atenção. Ele não sabia, mais ja tinha bem mais que isso e poderia sem pudores pular toda essa etapa. De repente, se assim fosse, passaria... 
O elevador parou no primeiro andar, quase ao mesmo tempo em que perdi os sentidos na primeira das muitas vezes aquela noite. Tudo parecia calculado, o meu espaço e o dele, o dele e o meu que não demorou muito a se tornar o nosso espaço...
Me toca verdadeiramente essa forma breve em que o ser humano se entrelaça em outro, buscando a essência e esquecendo medos. Inflingindo a liberdade se prendendo nos braços do outro.
Ele me apertou forte, como quem pedia atenção, foi então que toquei nos seus labios pela primeira vez...