terça-feira, 2 de novembro de 2010

Evidências

"Aumentei o volume, mas a locução era em húngaro, única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita."
Budapeste - Chico Buarque


Não sei, de repente as coisas ficam assim, sem luz. São vários os caminhos e a busca intensa por uma resposta que não sei onde encontrar. Nem ao menos sei o que busco. Vagueio então, como os pássaros que buscam a luz do sol, e, claridade, no porém e no entanto esta cada vez mais forte.
Congelado em meu próprio frio enlouqueço. Traços os sonhos no vapor formado no espelho e entre meio aos devaneios, choro.
Somos todos em busca de tentar juntar os traços que fazem da nossa vida clausula dos nossos sonhos. Todos nos em algum momento da vida, pelo menos uma vez já bebeu pra esquecer, o que reforça ainda mais esse sentimento de fuga. Fugimos da nossa imagem no espelho como quem foge da solidão, embora nunca admitirmos estarmos incompletos quando estamos só.
A solidão é como um sonho bom que te faz acordar cheio de esperanças, o difícil é pegar no sono depois. Essa mescla de responsabilidade e sacrifícios precisam terminar. Devemos encontrar o ponto de equilíbrio entre os encontros e as despedidas. Ou fingir tornar tudo mais leve. Ter tempo pra observar os pássaros, com a certeza de que alguém nos espera. Não falo de busca, e sim da vontade que tudo isso termine logo. Sei que não da pra ter tudo. Sei. Mesmo não sabendo quase de nada. Mas a questão é não poder juntar só as coisas boas da vida e viver de sonhos. A questão é acordar já sabendo o que será do seu dia e torcendo pra que as coisas não piorem. Uma troca que não ocorre, é você contra o seu tempo, e as horas não passam, por mais que você tente tudo permanece imóvel.

E são os seus olhos que não enxergo mais nos sonhos...
Mesmo quando passamos algum tempo juntos, pareceu tão natural esse perplexo de ficção. Aproximei sem te sentir. Mas sabia que você estava la. Talvez a continuação de um sonho nunca vivido. Mas você fazia parte. Você, de certa forma faz parte dos meus sonhos. Assim como as reminiscência do garoto distraído e completado que fui. Ou que sou. Isso depende de dias.
Você estava la. Eu não te via. E nem você sabia que estava. Mas você esta dentro de mim, e sempre esteve. Uma hora você vai se dar conta de que anulamos tudo por conta de algo que nunca existiu. Barreiras impostas dentro da sociedade que prega valores e ao mesmo tempo interrompe a vida. Democracia extasiada. Peito aberto e desastre. Mortes e corrupção.
Mas não, no sonho, seus olhos perderam o opaco de outrora e voltaram a brilhar. Ainda que aos quinze anos, onde vivemos a cumplicidade de um mundo sem barreiras. Ser criança é, sobretudo não calcular os riscos. As consequências, essas vão depender da forma como você encara a vida. Das experiências que te foram impostas e as mesmas em que você buscou com desejo imenso de aprisiona-las dentro de você, mesmo sendo desconhecidas.
Não faz frio, nem calor, nem o tempo se fixa, é o momento onde devemos andar na corda bamba e saltar à qualquer momento. E de repente, seja o momento de mais um sacrifício pra conseguir algo la na frente. São as experiências, principalmente as que te maltratam com maior voracidade que te fazem ser aquilo que você é hoje. O ser de amanhã pode não depender do hoje, mas sim de um não, que te foi necessário quando criança, mas que você era inotavel e precisou tomar sozinho as mais difíceis decisões da sua vida.
Hoje o medo já não faz mais parte. As grandes coisas já não são mais de grande valia como os caquinhos que a gente recolhe no dia-a-dia. O medo é o amanhã, as rugas na face que vão te mostrar não somente até onde você foi capaz de chegar, mas sim, a cada vez que olhar no espelho, o espelho é que vai te jogar na cara todas as vezes em que teve oportunidade de ser feliz e preferiu dar as costas. Mas esse dia vai chegar e você vai precisar se enfrentar. Existem muitos espelhos. Escolha o seu antes que seja tarde. De repente de um segundo pro outro você volte a ser a criança invisível e chata que sempre foi. Você vai perder o interesse pelas pessoas porque elas deixaram de brilhar. Não haverá, portanto luz pra te guiar. Restara apenas o escuro, e esse não vai te guiar. Não poderá enxergar nem um palmo diante da sua face. Vai precisar se guiar perante todos os conhecimentos que obteve ao longo da vida. Mas não saberá de quais buracos desviar e vai voando para o precipício, esperando que a magica aconteça e que você acorde. Mas ai, você percebe que, na verdade, os sonhos são reais, e, o que parece vida, são apenas reflexos das fugas do eu. Acreditando que odiamos nos outros tudo aquilo que não suportamos na gente.
E esse o tempo que eu proponho. Esse vazio que me faz ter vontade de sair correndo daqui. Mesmo sabendo que a felicidade não existe. E que, afinal das contas, vivemos numa busca desenfreada de tempo. E, quanto mais refletimos mas nos damos conta de tão eloquentes de fato nos somos, fazemos de tudo, o mais complicado possível, mesmo sabendo de antemão que as respostas só podem ser encontradas nas pequenas coisas, nos pequenos prazeres que nos deixamos de viver pra prestar atenção no relógio que roda, repentinamente.
No meu caso essa mescla de desespero é quando a hora não passa. Quero o dia de amanhã. Caminhei demais e me doem os pés. Esqueci a fé, os sonhos e a ânsia de viver pra poder pegar no sono.