segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Matei-me.

Apaguei as luzes acreditando não mais sentir medo. Passaram mais de quatro anos e as coisas ainda vivas. Saudade, falta e renúncia.
Botei aquela bolsa de hoje em um dos ombros e segui. Nova geração. Aquilo tudo novo. E de novo. A mesma história. Pontos de vista que me agridem. Outros que me fazem falta absurda.
Falávamos da nossa vida como se fosse estória, onde sempre há final feliz. Mas e aí? Que fazemos com as partes. As páginas que ainda não foram lidas esperando que a luz se acendesse? Ou ainda as arrancadas, para que nunca fossem descobertas.
Que boa história não tem um pouco de sangue escorrendo pelo queixo. Mas assim, na vida real a coisa é bem mais pesada. Tudo bem regado ao desespero. Medo e morte. Prefiro mesmo é na ficção.
Ele, ela e eu morremos ao entardecer. As estrelas ainda não estavam ali presentes para a cerimônia. Não me lembro nem a roupa que ele usava. Nem a dela. Era aquilo que eu mais queria. O momento. A vida. Os sonhos. Tudo ali. Mas algo me dizia que não terminaria bem de nenhuma forma. E de todos os meios eu me via só.
Como colocar na prateleira de volta ao invés dos filmes, as histórias que jamais vivemos. Os sonhos e o desejo. Quanto amor havia.
Atravessava aquela rua com mais voracidade que a vez anterior. Dessa vez havia pouco mais de sangue nos olhos. Ela sentia medo. Eu, calafrios. Ele, desespero.
Era como olhar para o espelho e decidir que a partir daquele momento seria outro e que ainda tinha um caráter a ser montado. Sem fantasias. Era a vida se fazendo presente, mostrando a cara e não pude escapar.
O portão era baixo, segurei com toda a força que pude guardar durante todo aquele tempo, dos dois lados, tudo o que amava. Tive que escolher quem morreria. Como nos balões pesados em que se tem que jogar algo fora. Ali era a vida. A única que tinha. E não tive escolhas.
Empurrei-o, depois de me morrer.
Não tive, durante dias coragem de olhar no espelho. Talvez o medo de que meus olhos me acusassem, medo de que o espelho quebrasse com tanta dor. Afinal não mais veria nada. Era como saber que perderia a visão depois de um tempo em que fora verdadeiramente feliz. Não mais veria o por do sol esperando que as estrelas ressuscitassem daquele céu azul escuro.
Não tive ao menos tempo de dizer adeus. Era como se nada tivesse acontecido. Sonho bom que se tornava pesadelo. Muita maquiagem, dor desespero. Tudo. O portão baixo. Queria não existir para não vê-lo partir.
Ela. A outra versão dos fatos. Jamais entenderia o que se passava ali, dentro de mim. A parte mais fraca que precisava do meu apoio. A dor que se escancarava. As orações que já haviam virado reza. Quanto amor destruído. Quantas noites felizes, ou aparentemente felizes. Tínhamos um do outro, os sorrisos. Coisas de criança. Criança grande que já sabia bem o sentido das palavras dor. Amor. Traição. Ódio. Desejo. Loucura. Desespero.
Fecho os olhos e lembro de como éramos felizes. Toda dor fora escondida. Existe uma barreira e jamais hei de quebrá-la.
Não sentirei saudade do que vivemos. Mas daria tudo para que tivesse sido diferente e ele a tivesse feito feliz.
Eu estaria por aí. Talvez encontrasse o porto seguro se as cortinas não se decidissem por abrir, findando o mais inocente dos espetáculos.

3 comentários:

  1. Bom vc me fez chorar qdo li em casa naquele papel....com certeza essas palavras so serão entendidas por nos .....
    Te agradeço fielmente por ser meu melhor amigo e por ter sempre segurado minha barra nos momentos mais dificies da minha vida
    Eu me enganei muito em relação a melhores amigos Hoje eu sei que meu melhor amigo é voce meu irmão pra quem eu sempre ficarei devendo
    Voce realemnte sera sempre guardado no meu coração
    Te amo Demais Meu Irmão amigo
    Bjosss......

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  2. Palavras essas,que parecem fazer parte de mim!
    Não sei se é intensão,mas me comove,enquanto interlocutor.Me faz parecer intimo desses sentimentos e situações descritas.
    Adoro a sua escrita.
    Vc é um artista!

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