“Nem todo abraço é à vista, todo mundo é
artista
Nem
um ponto de vista vai ser ponto final”
Era quente, ainda que o verão estivesse
prestes a terminar, pelo menos em sua mente, que buscava um equilíbrio entre
sentir e estar.
As portas estavam fechadas, embora sem
trincos. Podia ouvir os passos no assoalho inexistente. O que lhe consolava era
um velho e barulhento ventilador, que amenizava o calor, mas tomava-lhe toda a
paz conquista. Além do barulho. O vento. O pouco do vento que ousara circular
naquele ambiente estagnado. O mesmo que tirava as beiradas do tapete de trapos
do lugar.
Olhou atônito pela fresta da cortina de cor
amarela. Não é como das outras janelas que pudera se equilibrar com os resquícios
da lua. Sentia se preso. Embora totalmente alheio à proteção.
Desprovido das chaves que de certa forma o
prendiam a sensação de estar aberto ao que quer que seja. Indevidamente.
As lembranças eram reais, de tal forma que
não podia mais separar do imaginário àquilo que lhe discorria a caneta sob a
folha rasgada.
Estava entre o composto da mobília branca e
a estante de livro, ainda inexistente.
Fingia acreditar nas pessoas apesar de suas
doenças, as quais não lhe faziam o menor sentido. Já terminara de forjar o cenário
ideal, faltava-lhe ainda pouco mais da inocência perdida. Mergulhou-se em si,
inquieto. Desprovido do que quer fosse, estagnou aquilo que os outros chamariam
de sentimentos. Enquanto ele preferia acreditar na pele vívida que lhe cabia.
Embora ainda avermelhada pelas diversas incompatibilidades. Dessa vez não se
encontrava nu. Reminiscências de mais um dia cumprido. Como se ousasse entrar
no seu estado de inércia pra tentar viver àquilo que lhe fora proposto.
Descabido de qualquer ressentimento, abriu os olhos, vermelhos das lamurias que
indagava a pouco, restava-lhe o próximo contexto. Ou a espera.
Tentava ser além daquilo que lhe fora
proposto, o composto das frases que acreditar por fazer qualquer sentido.
Precisava seguir adiante, mesmo que pra isso fosse necessário cessar na idéia
os ideais daquela estante empoeirada de livros que ainda não ousou.
Era cedo demais para tamanha demagogia e
outras tantas coisas mais que lhe passava na cabeça ao mesmo instante.
As luzes coloridas piscavam de forma a
solucionar o puzzle e nada mais
precisaria ser dito. Estava repleto de si. Embora a serenidade lhe fosse
roubada pelo cotidiano.
Falta-lhe tanto. Tantos. Tantas.
Faltava-lhe o poder. A mudança.
De fronte aos seus monstros, forjava
serenidade. As coisas encaminhar-se-iam para qualquer lado. E de todas as
formas o amargo estaria. Estaria ali por sentir. Ou. Esperando o grito da
largada.
Estava entre a chegada e a partida.
Lembrava-se das poesias de domingo. Do violão desafinado. E daquela voz que o
sustentava. Lembrava-se dos momentos em que além de sentir sabia que aquilo é
que era felicidade. Nunca ousou de outra forma. Os pontos estavam no devido
lugar. Embora.
Lembrava-se das promessas que nunca
precisaram ser ditas. Eram concretas e por ali estavam. Era vivo. Sentia. A música
fazia o maior sentido enquanto contornava as vivências com sorriso estampado
nos lábios.
Descrevia o que o outro sentia de forma a
viver aquilo que dizia. Foi o mais real de suas alusões. Era o perfeito destemido
naquele corpo. Como se as pressões, suas frustrações fossem apenas erros da
natureza. As frustrações ocupariam espaços entre as desculpas pra fugir do
vazio que sentia ao pensar na ausência daquele sorriso. No tudo que ficara pra trás.