Estava ele ali. Sentado. Carregava consigo
o peso da mochila e as marcas de um longo dia de caminhada. Junto às linhas de
expressão, a insegurança e a vontade de seguir.
A tinha na cadeira ao lado, e os pés
fincados intensamente na areia mole e fina da praia. O que lhe fisgava a
atenção era a forma de como punha os cabelos pra trás.
Sem o controle das horas, o sol estampava a
paisagem configurada entre o céu e o mar. Estampado no rosto daqueles em que,
perdidas na nostalgia em saber o real motivo de ali estarem. O verdadeiro
retalho dos porquês, estampados na intensa duvida de que lado da pedra se
fixar. Como se, de forma abrupta, procurassem algum sustento para aquele vazio
que se instalava no ar.
Mar bravo. Ondas no quebra-mar. Por detrás daquelas
imensas pedras, a vontade do mar de se deixar invadir.
Com os olhos absortos, desconexos avistou a
mochila sobre a cadeira velha de cor amarelada. Como nos contos em que se da à
cor necessária para o cenário que a rotina ousava compor.
Em segundo plano, aqueles olhos tímidos,
fugitivos. Inclinavam-se pouco mais à direita.
Insistiu num terceiro olhar a tentar entrar
um pouco naquele sorriso, ainda mais tímido que os olhos. Sim. Eram olhos tímidos,
que sorriam numa intensidade única. Como se nada mais se passasse à volta.
A vontade era de escrevê-lo todo.
Faltava-lhe o fôlego.
Pegou então seus olhos dentro da mala desbotava
sobre a mesa. Entregou-se à uma nova historia (dentro daquela em que estava
vivendo). Não haveria diferenças. Mas, o que encontrou como equilíbrio foi uma maneira
de tentar ser o maximo que pudesse.
Durante dois dos capítulos mais densos, o
acompanhava com discretos olhares. Dessa vez algo o fez sorrir. Riso solto.
Liberto. Algo novo que estava por nascer. Diferente do instante anterior, onde
seus olhos buscavam os olhos do outro com certo tom de curiosidade. Seguido da
vontade de deixar os lábios se invadirem. Vontade de tocar a palma das mãos no
rosto do outro.
Sentiu areia quente entre os dedos.
Perderam-se nas palavras e resolveram entregar-se ao sol. Ou talvez um começo
onde eles pudessem inventar juntos, as cores do que viriam a partir dali.
Seguiram-se por instantes dos mais
coloridos devaneios. Ambos aflitos em tocar nos olhos.
Tocaram-se.
Sabiam de alguma forma. Ou não sabiam absolutamente
de nada. Chamariam aquilo do que ousassem acreditar. Algo que, de repente,
tivesse mais sentido se não ousassem interpretações. Ou se apenas vivessem.
O lado colorido ofuscava toda a paisagem,
como num cenário estagnado. Sentiu torpor. Como se todo o resto perdesse a cor.
Na paisagem preto-e-branco eles poderiam se amar.
Afundou a planta dos pés nos lábios da
terra. Areia quente entre os dedos.
Estenderam-se do lado de lá algumas vezes
naquele mesmo instante.
Ousaram-se.
Sacudiu o pano esverdeado e o convidou pra
ser livre com ele. Sorriram-se ininterruptamente através dos olhos. Embarcaram-se,
um pelo outro.
Apaixonante, Parabéns Gabriel! É um dos seus melhores textos na minha opinião!
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