domingo, 30 de novembro de 2008

despedida.

“São só palavras texto, ensaio e cena
A cada ato enceno a diferença
Do que é amor ficou o seu retrato
A peça que interpreto, um improviso insensato”

Só sei que foi assim.
E de repente ele se via só. Sem luz. Sem ópio. Olhando pro lado, avistava uma lata de cerveja. Não estava vazia. Estava quente. Mas nem tanto quanto o corpo que incendiava a alma. “Quero mais, quero a paz, que me prometeu”.
Ele já não mais se via só. Mas também não existia. O outro o havia tirado do campo de algodão. É. Mesmo. E onde o encontraria desta vez?
Perdido no desconexo de um texto. O Não saber do que vive. Angústia. Tão grande. E tão pequeno aos olhos do outro. Faz mesmo. Tamanho sentido. E onde. Olha só. Todos estavam. Agora. Ninguém. Saudade. Isso já não interessa mais. Que o ciclo recomece.
Recolhe esses copos aí do chão. Leva as latas vazias de cerveja. Quente. Para dentro. As cinzas de cigarro continuam ali. Aqui. Por toda a parte. E contam parte dessa história. De começo. Meio. Fim.
Mais fáceis seriam os contos de fada se começassem do fim. Ao final seria o primeiro encontro dos olhos. O primeiro telefonema. A primeira discussão. Mas não. A coisa é humana.
“É dor,se há,tentava, já não tento”.
E foi dessa forma que o sol se escondeu atrás das nuvens de fumaça. E ao cair da noite. Que chova. “Pra lavar os pecados”. Diria ele.
Na noite de ontem o medo o fazia companhia. O vento não se vazia presente. Sufocante. Eu diria. Ele também. A falta. De você. Do ar. De ar. Dos sentidos.
Pula a linha. Sacode a poeira. É tão especial quanto antes. Existe ainda o campo de algodão. Mas não. Prefira as roseiras. Os espinhos são mais brandos. E não há tamanha necessidade de se cortar sendo dessa forma. Ele se confunde. E confundem-se. Olho pro céu azul. Rastros brancos. Ainda há esperança? Mas e a chama que envolveu o campo. Algodão. Ele o via queimando. Sentia. Mas não podia fechar os olhos. Que não faça mesmo tamanho sentido. Tudo é bem mais complicado. E porque não ser assim.
Conta até três. Depois. Até quatro. São quantos mesmo? Por quantas pontes de madeira terei que passar com essa sede. E a idéia de passarmos dias escrevendo e cantando agonias. Quanta agonia. Deve ser a dama. Nem vou falar dela. Vai que apareça. Meu Deus. Eis me aqui. Sem as deveras forças. Se, brilho na face. Estático de mim mesmo. Sem virar nostalgia.
Queria dessa forma. E assim foi. Desapareci. Por onde. Quando. Sei lá. Tarde demais para reclamar ausência. Pode ser que ainda exista brilho nos olhos. Mas o orgulho jamais permitia que voltassem atrás. Os dois. E as palavras. Essas ditas. Serão lembradas. E a dor que elas trazem. Carrega por toda uma essência. Essência. Que nada. As palavras. Nada de essências. Apenas palavras. Que ferem. Se pudesse as tiraria daqui desse texto. As colocaria em um texto menos denso. Mas densidade. É disso que o público precisa. Mas existe público?
É assim. Não é romance. Nem tragédia. São pontos. Os finais. Vai senhora. Deixa-me em paz. Vai embora daqui. Não é bem vinda. As lágrimas secam. Sem vento. Trajetória. Vida. Fonte. Isso até me lembra infância. Amigos. Os de infância. Os de agora. A saudade permanece nas palavras. Mas e o braço forte. Abraço forte. Não seja tolo.
Fui interrompido pelo gato que mexia no lixo. Olhei para o lado. Puxei o banco. Ela sentou. Toda de preto. Assim de capuz. Queria me levar daqui. Mas não me disse pra onde. Não. Não. E ela me olhava. Acho que você me entende. Quanto arrependimento. Quanta gente. Aonde é que elas estão agora? Por onde mais devo procurar. Lembro que ela me disse para estender as mãos. Não. Não ele não pode. Ela o levaria. Mas e o orgulho. O medo de ferir. Fica por ai. Vou dar uma volta por lá. Quando voltar não esteja mais aqui. Esse não é o seu lugar. Escureceu quando fechei os olhos. Minutos depois.
Ele não pensava em nada. As lágrimas ardiam a face mesmo sem descerem. Que caia água do céu. Que a leve daqui. Não. Fica mais um pouco. Melhor com sua companhia. Vai. Já que esta aqui. Entra aqui. Invade. Escreve por mim. Assim. Sem frescuras. Desse jeito. Assim. Só escreve. Alguém vai te reconhecer. Já que é isso que você quer. Aparecer.
Com mais voracidade tento entender. Mas não. Não mesmo. Nunca vai me entender. “Eu sou a tua morte. Vim conversar contigo. Vim te pedir abrigo. Preciso do teu calor”.
E a luz amarelada e fosca soava mais angústia. Quando ele abriu os olhos. Ela estava ali. O olhava de canto quando decidiu por ficar.

Um comentário:

  1. "Todos estavam. Agora. Ninguém. Saudade. Isso já não interessa mais. Que o ciclo recomece."
    São tantos os ciclos... Já desisti de contá-los. Mas os melhores... ah...esses nunca se perdem. Sou prova disso. Nessas férias, visitarei um deles. Talvez o mais belo. Distante. Mas lá está. Intacto. Ninguém ousa dissolver o insolúvel. A amizade é maior. Que o tempo. Que as diferenças geográficas. Bem maior. Sou prova. Que arde. A cada mês distante. Em cada férias. Sou prova. Tu também serás.
    Talvez nosso maior erro. Colocar expectativas nas pessoas. Quando você voltar. Pode ser que esse alguém de quem fala ainda esteja aí. Intacto. Pode ser que não. A vida é tão absurda. Tantos os giros que por horas me deixam tonta. Ainda ontem falava disso. Com uma amiga. Que talvez eu não veja mais. Meu Deus. A vida é absurda. Mas qual seria a graça se antes do espetáculo, lêssemos as falas? Qual seria?
    O importante mesmo é tudo o que fica. E ficam os sorrisos. Os objetivos alcançados com tamanho esforço ao lado do outro. O que fica são as noites sem dormir direito. Os trabalhos que realmente deram trabalho. Às vezes em que perdemos o fôlego. Os dias anormais. Ficam. Esses ficam.
    Mas e os cinco dias de solidão? E A dama? Fica pra você?
    Sim. Fica. É a fina linha nos olhos. O crescimento doloroso. A solidão. Jamais retornarás ao que era. Você também. Vai hoje. Volta amanhã. Mas não será mais o mesmo. Não. Não encontrará mais as mesmas pessoas. Mas os verdadeiros. Ah... Para esses será como se nenhum dia tivesse passado. É essa a delicia da partida. Você coloca a prova. Sim. Você tira a prova. Quando voltar. Só o verdadeiro existirá. Dói. Você descobre quem nem todos seus amigos o eram. Mas ah... É assim. A vida é assim. Absurda. E tão bela. Vai. Parta. Cresça. Viva. Conheça. Quebre a cara de vez em quando. É essencial. Caminhe por campos de flores na Holanda. Mas não se esqueça de visitar os campos de concentração na Alemanha. É essencial. Para que haja. Alguém. Por detrás dos olhos mais velhos. Por de trás das lágrimas que escorrerão durante a apresentação da orquestra.
    “E quando você voltar...
    Tranque o portão
    Feche as janelas
    Apague a luz
    E saiba que te amo...”

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