domingo, 11 de janeiro de 2009

Ali parado.

Ele estava ali. Parado. Apenas isso. Não dava ao menos tempo para calcular o quanto ele estava ali. Parado. Quando aquela coisa rotineira de dar e receber abraços se fazia presente. Presente. Ele não ganhou muito. Entre meio um sorriso disfarçado havia muita falta. Um irmão. Outro que não mais estaria ali. E fizera falta. Entre muitos que não estariam por vir.
O relógio marcaria mudanças. Se as coisas não permanecessem estáticas a cada instante. Desespero. Tudo girando. Pessoas rindo de piadas qualquer. O mundo. Dele. Trazendo de volta coisas que viveu. As viagens que antes fazia. Dos sorrisos de gratidão que colhia. Muda tudo. A roupa. O dia. A noite. Mas quantas noites ele terá de viver pensando no que poderia ser diferente se as coisas permanecem em ordem. Uma ordem que não existe. Nunca. É. Não mesmo. Reminiscências...
Partiremos das lembranças pra formar o que somos. Aquelas coisas que saem do controle. Um ou outro não que disse e que não é acolhido. Fora deixado de lado. Etapa concluída. Filhos grandes. E a felicidade. Quando ela há de viver ao meu lado. Ser a grande dama de companhia. A que completa. A metade que me levaram embora naquela cama de hospital. Das vezes em que me esperava já com os cabelos encaracolados e de batom pronto.
Perdera o sono na primeira noite em que o cadeado fora travado com alguém do lado de fora. As asas. Responsabilidades e amor. Quanto amor.
Ele não aprendera a demonstrar a sabedoria de mais de cinqüenta anos. Passou pelo tempo e deixou de viver. Agora vive por contar às pedras que aparecem no travesseiro. Já que os caminhos fecharam as portas numa sexta-feira qualquer. Ele perdeu o sono.
Rola de um lado pro outro da cama criando a sensação de um frio inexistente. Um frio da alma. Ausência. Quanta coisa errada. Ele pensa que expõe tudo o que sente. Mas fica sufocado na garganta e o impede de sorrir. Que esse super-homem deve estar fazendo agora. Já passam das duas e as luzes permanecem acesas. Ele já não pode mais sonhar acordado. Pensa na vida que gostaria de ter tido. As pálpebras se forçam a encontrar a outra face. Mas já é tarde demais. A luz que atravessa a janela sem cortina já invade sua retina. Amanheceu e ele não pode nem ao menos pregar os olhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário