domingo, 11 de janeiro de 2009

Lá fora.

Os dois permaneciam calados. Ela se enforcando cada vez mais em suas palavras. Veneno. Escorria pelo canto da boca já encharcada de lágrimas. Mentira e tragédia.
Ritual de oração já não bastaria. Boa comédia romântica, se não fosse pela falta de ar que provocaria a partir daquele momento. Saiu ininterruptamente portão a fora. Como se as paredes estivessem contaminadas pelo ódio. Atravessaria a cortina sabendo que estaria errada. Nada mais a fazer. As cordas atravessariam suas veias sugando seu ar para a atmosfera enquanto respirava, por conseguinte enquanto a fumaça entrevava um branco sutil de fundo amarelado em seus pulmões. Ela pensou por instantes na morte. Ele. Que tudo acabasse ali. Afinal, só buscavam daquela fonte pouco mais de paz.
Assim olhos nos olhos eles se estranhavam, naquela angústia causada por ela. As flores amareladas. Agora sangue que se espalha por todo o colchão atravessando o quarto numa sutileza de se estranhar. Tanta purificação. Quanto amor, atrelado ao ódio. Os corpos se amam e se odeiam quando se olham. Depois choram. As lágrimas inundam o corpo um do outro enquanto a noite caia lá fora...
Ouviram palavras que não de dor. Sonhava cada dia mais com a partida e o livramento. Cantaram e foram felizes. Por Deus. Pela paz. Pelo tempo. Pela alma. E seguiram felizes.
A vida de um dos garotos fora interrompida logo no primeiro sinal de violência que a vida lhe pregava. Ainda mal conseguia separar as pálpebras daquela situação toda. Houve gritos. Muitos deles. Desespero. E ele nada podia fazer. Saia correndo atrás parava tudo aquilo e morrera pela primeira vez deixando de acreditar que o ser humano podia ter amor ao próximo. Ninguém precisava dizer nada. A violência ocorrera ao entardecer. Fora tomado com força e o sangue lhe escorria sobre as pernas. Aquela voz ofegante em seu pescoço refletia angustia e atordoamento.
Talvez tivesse sido melhor que os fios lhe atravessassem o pescoço e a luz se apagasse naquela que seria sua segunda morte. Onde não acreditava em poder ter escolhas. Aquilo seria lembrado pra sempre.
Tempos se passaram e o espelho revelou sua grande face. E sua voz lhe vazia voltar à vida. As mãos que o tocaram era de leveza. Calmaria. Havia amor jogado á regra pra suprir tamanho desprezo que a vida lhe dava.
Como atravessar mais uma esquina para o próximo surto. Ninguém entende. Ninguém. A dor o tornara cruel e ele já não mais sabia separar o bom do ruim. Para ele. No momento que em que esteja cheio da sua própria razão.
Ao menos temia que se machucasse mais uma vez. Não adiantava. Ele teria que passar por mais isso e perder. Sempre as perdas. A voz. A visão. A fala. Levaram também seu orgulho vital.
Ele não mais sonha. Pensa que a coisa não tem mais solução. Crime perfeito. Perfume adorável. Tempo de chuva que inspirava o sepultamento da saudade. E nada disso acontecia. Perdera o equilíbrio em uma esquina qualquer. Mas dessa vez sua metade (que também já estava por partir) o segurava as mãos antes mesmo que as luzes se apagassem. Não havia mais o que fazer. Prendera o dedo na porta. A unha quebrada doía menos do que quando ouvia aquela voz que confortava ao longe...

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