segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cobertor.

Dessa vez foi o silêncio quem interrompeu as próximas falas. Os olhares trocados foram de renúncia, do outro lado, o medo. Ela pensava em como seriam os lábios que não ousaria tocar, depois, o agride.
Ele rasgava os papéis antigos sem pensar em nada. Perdido na esperança de encontrá-la novamente como no ontem, onde nada tinha se alterado. Ausente o ego antes priorizado. Agora as lembranças do café que deixaram de viver juntos no domingo à noite...
As coisas estavam em desordem, e ele pensava em se atirar pra perto, ela, buscando uma maneira de não pensar em nada e fugir.
Ambos choraram.
As malas não estariam prontas para a partida sem o lenço branco pendurado na madeira escura.
Ainda sentia o cheiro dela por toda a parte. Atormentado com os pensamentos não pôde dormir. Pensava tão fortemente nela que seu coração machucado, na ânsia de bater mais forte o fazia gritar...
As indagações e todas as vezes que riram juntos o fazia repensar se estaria errado. Talvez. O melhor seria ele renunciar suas buscas maiores? E ela? Que faria com tanto rumor? Ele trocaria de roupas todas as noites. Ela o veria pela primeira vez vestido. As coisas nunca foram ditas. A barreira. A culpa por não poder ter aquilo que gostaria de ser. Ela num ato de proteção o machucou. Ferido ele não pode mais pensar em nada.
Os verbos tão distintos. O abraço foi rápido, quase que os corpos não se tocam, ele insiste, ela corre.
A imperfeição faz das coisas comuns. Ambos sofrem. Juntos, eles se evitam. Porque amar é tão complicado? Porque as pessoas são tão diferentes a ponto de não poderem firmar seus ideais sem agredir.
Que ela estaria fazendo agora sem ele? As coisas estavam acontecendo a todo instante enquanto ela o deixava partir... A complexidade de aceitar que as coisas são distintas munidas pela cultura do falso moralismo transgredido pela descendência morta de preconceitos e doenças dos olhos e ouvidos não a deixava aceitar que o amava sem medo. E na verdade o medo era algo externo. A pele áspera que só os outros veriam.
Depois de renegar todo um tempo em que passaram juntos. Deixa estar, passando aquele filme onde o ator principal é esquecido entre meio aos rascunhos da gaveta do armário empoeirado.
Ela o evitava olhar nos olhos, enquanto ele a buscava seduzir pela voz triste, era inevitável morrer novamente.
Fora a equidise acirrada, sentiriam os dois na verdade a mesma história com pontos distintos. Mas nem um dos dois abririam mão de suas razões. Um por viver aquilo que a sociedade impõe. O outro por infringir essas tão aclamadas imposições.
A escolha por ser feliz era quem falava mais alto e ditava as regras. Ela, o tentava moldar, na falsa esperança de que o transformaria em argila, mas em vão, quanto mais água ela punha, mais a areia fina escorregava pelos cantos...
Era noite e ele sentia frio enquanto rascunhava seus versos tristes, compostos pela angustia de não poder tocá-la com a mesma liberdade. Coberto pelos desejos era incapaz de adormecer...
O corpo cálido à esperança que morria a cada batida forte que sentia na respiração descontrolada.

“Se és capaz de arriscar numa única parada, tudo quanto ganhaste em toda a tua vida. E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida.”

2 comentários:

  1. "A complexidade de aceitar que as coisas são distintas munidas pela cultura do falso moralismo transgredido pela descendência morta de preconceitos e doenças dos olhos e ouvidos não a deixava aceitar que o amava sem medo."

    "Ela, o tentava moldar, na falsa esperança de que o transformaria em argila, mas em vão, quanto mais água ela punha, mais a areia fina escorregava pelos cantos..."

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  2. pequenas coisas que vão acontecendo sem nós percebermos.Talvez a ânsia de amar quem está do outro lado sem regar raiva e medo!Ela foge para o não magoar, porque acha que está intensamente ligada a ele. Ele apenas vai observando e vai perceber que as coisas cresceram assim.

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