terça-feira, 29 de setembro de 2009

O ataque

Como todo final de tarde o sol se põe num tom laranja. Como se tivesse se despedindo pra não mais voltar. Uma volta para o outro lado do oceano. No seu lugar o frio da escuridão que não mais é sombreado pela lua que resolveu tirar férias do lado de cá.
Do lado de lá ele brilha talvez pela ultima vez aquele homem. Tão carregado da idade que o fragiliza. Que a falta de esperança se transforme na paz que deve ser precisa.
Não há armas pra brigar com o tempo. Discutimos com o espelho que nos insiste em mostrar uma realidade cada vez mais morta. A morte das emoções. A morte de um amor. A morte da própria pele que desce ralo a baixo a cada banho.
Essa noite, que a água leve embora metade daquilo que seja.
A equidise necessária. A dor. A perda. Sempre a perda.
E nesse mesmo tom. Na mesma nota. Perco o sono todas as noites pensando em um novo dia que vem a seguir...
A cada dia menos sol. Menos oportunidade para estar perto. E vai se perdendo. A roda do carro vai deixando seus rastros pela estrada enquanto ele canta com toda a dor pra mostrar uma nota maior, que expresse a esperança. Mesmo que morta.
Diga adeus. Depois me beije. Ao partir que deixe a saudade. A falta. Que eu pense em você como o começo e meio. O fim deixa para quando a canção acabar.
É mesmo. Não estarei no momento de mais dor. Não. Não estou ao lado. Como egoísta que sou. Deixei passar. Pra viver o novo olhar. A nova forma. Os novos olhos. O novo ser que acordará amanhã. No momento estou preparado somente para a nostalgia.
Aprendi a morrer a cada dia. Mas não aprendi aceitar que morram. Aceito a minha equidise. A dos outros não.
Ele parte. E se apaga mais uma estrela do céu.
Não sei mais no que pensar. Devo ligar? O que eu faço? Vou correndo em busca de um ultimo abraço? Vai ser em vão.
E depois, qual a imagem que ficará em minha mente? Vale a pena?
Prefiro a covardia a dizer a verdade.
Talvez escute a minha voz e saiba que estive presente ali. Mesmo que ausente.
Mas não. Acho mais importante. Levar comigo o seu nome. Pra que se difunda ao mundo. Se esse será o seu presente. Assim serei. Digo de carregar a geração adiante. Num ré maior de dor. Prefiro que respire lentamente pra não se cansar. Dói demais. E quem fica? E quem cantará a sua canção favorita? E o perdão daqueles que nunca souberam o valor de amar?
Tanta euforia e as pessoas esqueceram-se de pedir a benção e a perderam pra sempre.
Aumenta o som. Se entregue a equidise. Sofra tudo o que for necessário.
Vista sua roupa negra e aguarde o fim. Morra e me leve junto com você.
A cada morte, uma nova nota criada. Surgem as mais estranhas coisas para que o tire de cena.
E eu, cada dia tenho mais certeza de que o tempo passa. A cara muda. Mas a essência não. Estarei longe do seu lado. Perdoa-me, mas o pássaro recusa-se de voar em busca do calor. Prefere enfrentar o inverno que estar por chegar. E se resistir ao inverno. Será mais forte.
Qual seria a ultima vez que viu seus olhos azuis no espelho? Mais que isso, quando foi a ultima vez que sentiu os dourados raios de sol deitar sobre o jardim...
É um misto de fracasso e conquista. Buscarei as forças pra seguir adiante ao nascer do sol de enfeite do lado de cá do oceano.
Brevemente olharei diretamente para o sol e não poderei mais sentir seu calor.
A partir de agora, unicamente peço que respeite esse meu silencio. Essa euforia sufocada e esse medo de seguir adiante.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

nostalgie

Resolvi colocar um ponto, virei para o lado, mas não dormi. Minha mente pairava sobre a falta de razão de ser e entre a vontade de estar. Ele não estava mais ali. O retrato esquecido se apagou com o vento e a chuva. Eu não posso mais. Ultrapassei os limites e ajudei o tempo destruir o que poderia haver de bom. Uma mistura de saudade e vontade sair correndo (pra não mais voltar). Uma distração e cortei o dedo, desisti de tocar piano. Não é amor, assim eu espero. Deve ser desespero. Vontade. Indefinido.Tudo se mistura a vontade de ir adiante e o medo de precisar olhar pra trás. O tempo. A alma. Tanto desperdício para uma construção que pode dar em nada. As horas se passam e a nova rotina consome. Tanto sono desperdiçado. Abraços inalcançáveis e apelo. Vejo fotos pra sentir mais perto. Quando percebo já estou colando-as no mural dos sonhos. A vontade de apertar, feito criança na terra. Sem medo. Afinal, sei lá o que se sabe. É intenso, sempre foi.À hora é essa, os poetas estão perdidos e eu não sei mais o que fazer. Leio as linhas tortas rabiscadas no vidro empoeirado do carro. A chuva não apagou. Mas a caligrafia não é a materna e aqui não há tradução para a “saudade”. Acho que é mesmo pra esquecer o significado. Penso em você, no desencontro, no retrato mal tirado pregado na parede torta.

sábado, 5 de setembro de 2009

Ao entardecer

O barquinho que anda pela ria, as vezes trava. É humano, natural, as vezes erra, as vezes intala.
Desde quando as angústias tem de ser entendidas?
"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio"
Voce não vai perder o avião. Porque já vai estar tudo planejado antes. Voce, com certeza esquecerá de coisas, que antes julgava essencias. Mas até quando é essencial algo que deixamos pra trás? Há momentos na vida em que a vontade que temos é de pular da janela mais alta. Afim de aniquilar não só a dor como esse corpo que se putrefica a cada instante.
"Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável."
Vai, se quiser fica, ou volta. Ninguém pode te crucificar por andar. Afinal, somos livres. E dentro dessa liberdade, as frustrações, porque quanto mais livre, mas sozinho a gente se encontra.
Relacionamentos prendem a gente, eu os evito, por pura covardia os evito, mas reclamo a todo momento pelo telefone que não toca. Pela voz que poderia ter sido doce.