segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Caricias


“Ainda é cedo, amor [...].”
  
Eram misturas daquilo que ficara pregado na pele e com o novo que fora sentido. Eram de fato. Novos sonhos sendo criados na intensidade em que eles se beijavam.
Não se sabe ao certo quanto tempo de fato é que não se viram.
Encontraram-se ali. Dessa vez, com as cicatrizes velhas repostas e aspiração de seguir, de forma distinta. Preservada. Numa intensidade sem interrupções.
Não encontraram barreiras. Tampouco as criaram. Seguiram. Como quem pisa no mar pela primeira vez. Aquele frio na barriga de um primeiro dos muitos encontros que estiveram por vir. E que de fato. Criaram aquela sensação de que o mundo pararia no exato instante em que os lábios discorressem numa mesma tonalidade.
Era noite quente. De verão. Como todos os bons romances daquela época.
Sentiram-se renovados. Como se dançassem ao som daquela musica há tempos e soubessem sincronizadamente onde e quando se deixar evadir e firmar os pés no chão.
De fato era um novo homem. Os mesmos olhos. Talvez pouco mais profundos que da ultima vez. Carregando consigo todo o sinal de vivência. Carregando consigo o outro. Que de fato o carregara também durante todos aqueles anos que ensaiaram o encontro perfeito que nunca era tempo de ser. Haveria o momento certo, exato para as coisas ocorrerem de fato e assim findou.
Torceu seus braços pra contornar e apertar mais o cinto já gasto pelo tempo. Dessa vez não reparou na distancia. E como de costume aumentou o volume no som exato pra que nada atrapalhasse aquele percurso. Não havia tempo de espera, nem delongas. Era aquele friozinho na barriga presente. Nada daquilo o incomodaria. Seguiria sendo, não importava quão grande e distinto seria o próximo passo.  
Caia a chuva espaçada no pára-brisa. Trocou a marcha até escutar o barulho do motor. A música calava tudo o que havia do lado de fora. Ficara só. Exatamente só com o lado bom do que queria naquele exato instante. Afinal vivia sonhos sem intenções exatas. De uma forma onde o outro se sentiria afinal, livre, pra ser aquilo que se ousa ser quando se é feliz.
Já sabiam onde as mãos deveriam se apossar, mesmo sendo o primeiro contato físico. Apertou-o contra o peito.
Indagaram-se. Numa espera a entender-se do outro tudo o que se passara até então. Estavam ali. E tudo acontecia de forma natural e suave. A forma como se olhavam e o brilho nos olhos deixavam aqueles sorrisos indiscutivelmente presente entre eles.
Pediu um café. Teria pedido outro se não fossem tantos os olhares encorpes.
Saíram dali. Entreolharam-se perdidamente. Como quem buscasse um horizonte onde fixar as vontades que o traziam até ali. Falaram-se ininterruptamente. Entendiam-se por vezes nos olhares. Embora as palavras, havia coisas das quais, se foram apenas sentidas.
Contornaram ruas entre as diversas praças que havia.
Estavam ali, parados, pouco abaixo duma arvore qualquer, mas isso não trazia a menor importância.
Fora dessa vez, tocado no âmago. De uma forma cautelosa, simples e doce.
Os dedos entrelaçaram-se entre os fios de cabelos ainda úmidos, nenhuma palavra foi dita. Sentiu-se ali. Afagado.
Entreolharam-se. Como nos outros diversos instantes em que não se ousaram. Aproximaram os lábios. As mãos sobrepostas ao pescoço. Fora tocado.
Sentiu tanto que fora capaz de estar ali absolutamente. Estava repleto de si e do outro. Da essência que lhe fora trocada. Dos lábios acetinados e doces que invadiam de forma sutil o interior daquilo que não fora buscado, mas se pode sentir.
A forma como eles apoderam-se um do outro fora estendida pela acalmada pela brisa breve. Pegaram-se entre os braços pra sentir. Eles se, pela primeira vez.
Acelerou o carro. Dessa vez não aumentou o volume do som. Pouco importava o resto. Queria estar ali. Inteiramente. A realidade da busca fora sentida no instante exato em que se apoderava do outro e se deixara levar.
Passaram por outras praças que viriam a fazer sentido numa outra historia qualquer. Mas ali, dentro do que estavam por viver nada mais importava.
Era como se o outro fosse ele mesmo e não precisasse de nada que o fizesse impressionar. Gostava demasiadamente do equilíbrio que tinha na companhia e por um gesto breve ousou sentir.
O barulho do motor fora interrompido, juntamente as luzes que se baixaram na medida exata do que precisavam e do que estavam por repartir. Eram ali, dois corpos numa magnitude em que se percebe. Tentando se ousar invadir na essência do outro.
Sentiu o primeiro toque nos lábios, enquanto o seu corpo era coberto de torpor. As mãos escorregavam na medida exata do que precisava ser sentido e os corpos estavam ali apenas como intermédio. Para que eles pudessem viver.
Invadiram-se de forma a entender-se um ao outro. Estavam atenuados pelos pingos da chuva do lado de fora que nem se afoitaram pra qualquer acepção que fosse. Eram ali. E todo o resto não importava. Eram como se ali, difundissem todos os devaneios em que sonharam outrora juntos. E que confinantes seriam de tal modo. Um ao outro o que ousaram a si.      

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