Eles
não ousaram se abraçar pela manhã de domingo. Acreditou que as coisas estavam
perdidas. Aquela coisa de o céu ser o limite era densa demais pra ele. Estava
repleto de si e não se sentia só.
Pousou
varias vezes as mãos sobre a face caída. Buscou interpretações diversas para
aquele sentimento hediondo.
Mata-se
a cada palavra jogada fora. A sintonia das cordas vocais de outrora o tocavam
mais intensamente naquela manhã.
Estava
estagnado de um sentimento maior do qual não faria o menor sentido.
Sentindo.
Ousou dessa vez tentar não pensar naquilo que o afligia.
Em vão. Sentia
demasiadamente cada passo. O calçado o fazia apertar os pés. Não era a saudade
que o reprimia. Se tratava de outros fatos. Fatos escusos. Menos
ponderantes. Mais distintos que das outras vezes. Tratava-se de orgulho ferido.
Da inversão de valores. Seguia contrario àquilo que acreditava como verdade
absoluta. Eram apenas desatinos de uma liberdade que fingia ter. Era amor, de
fato.
Travestiu-se
de preto, como se algo o protegesse do outro. Ou das cores inventadas daquela
pintura escondida no armário empoeirado. Não entendia na maioria das vezes como
é que as ações poderiam se agravar. Deixando de lado aquilo que pensava, pra se
deixar levar com o vento...
Era
confuso demais pra ser exato. Poderia contar as pintas da face do outro. Mas não
suportaria, se os fatos não assim condissessem e aquilo fizesse por habito. Não
mais suportaria ver sua obra sendo retocada por outros, mesmo que aquilo
significasse memória coletiva. Era demasiado egoista por sentir-se livre.
Sabia
de fato o que estava sentindo. As cores sobrepostas à tela estavam quase secas
de tanta mistura. Tanta iniqüidade sem sustento. Balburdia que fora tocado em
silêncio. Não mais suportaria a ideia de não viver aquela rotina
imposta no começo daquilo que eles chamavam de amor.
Vivia
de amor em seu inferno particular. Cada segundo imposto era como se a pele
vestida enferrujasse. Suas mãos suadas, a do outro, calada.
Era
silêncio demais entre os gritos de dor daquela troca de pele. Sentia com força
aquela transposição de fatos. Sentia-se medíocre por não interpretar-se de
forma contundente a ser livre.
O
que era antes liberdade. Agora sua prisão.
Não mais poderia indagar a lua pela
janela do quarto. A via distante de si, e se sentia dessa vez, questionado por
ela sobre sua outra metade.
Lembrou-se
do final da noite quando a tinta preta apagou metade do que era luz. Brilhava
tanto de forma a reluzir todo aquele sangue que sobrepunha aquela coisa inanimada que o fazia estremecer. Era
complexo demais entender a si pra aceitar o outro.
Sem delongas, adormeceu-se
daquilo que acreditava ser o sonho.
Viver de realidade o fazia sangrar mais.
Foi a forma mais lucida que encontrou pra sentir-se vivo.
Aos
pedaços, recolheu-se junto ao espelho, tentando ignorar as deformidades que o
acaso lhe fizera. Colou-se dessa vez no papel do monstro e tentou se desmistificar,
acreditando piamente que aquela poderia ser uma saída.
Escorria
por sua face toda a dor sentida. Não teria jamais o equilíbrio pra dizer ao
outro quais os melhores caminhos. Prezava sua prisão interna, o que em outros
dias chamaria de liberdade.
Não. De fato ficaria emudecido por mais algumas
horas, ou dias, se fosse necessário. Tentar com que suas ações condissessem
piamente com suas palavras e não deixar que sua forma amar não virasse utopia.
Brigou varias vezes com a imagem do espelho naquele momento em que perdeu a noção do tempo.
A
coisa dessa vez vinha de fora pra dentro. Sentia mais dor que às equidises
passadas. Mas não sabia de fato, até onde poderia ir, e se, de fato poderia ir
a algum lugar.
Havia se encontrado demais olhando para os dois pontos brilhantes
sobrepondo a lua. Como se o universo todo gritasse pra ela a solidão e que, se
apagar fazia parte do processo.
Era
domingo, como todos os outros. Domingo quente, sem aquele cheiro bom da terra.
Fazia calor demais pra ventar e como havia perdido a voz outrora, julgou inútil tentar
e deixou-se levar ao acaso.
Sabia
onde pisava e isso o assustava um pouco. Era como se agora em que sabe quais os
passos deve tomar, o caminho exato fosse perde-se nas cores que a paisagem
deveria compor. Começar-se-ia a viver a partir do por-do-sol. Se o sol de fato
lhe fizesse o sentido esperado. Ou se deixaria se levar com a brisa da noite.
Suava
frio tentando fazer com que o sol nascesse depressa. Cantava baixinho. Depois se
ostentava dos gritos que saiam do âmago. Que de fato tinha duvidas a respeito de onde
vinha. Eram muros de concreto defronte as grades cinza de sua memória amarelada
pelo tempo.