terça-feira, 19 de maio de 2009

O bar.

Falta de apoio. Ele rompia a liberdade. Media os copos do armário como se pertencessem a sua vitrine pessoal de indagações. Perdido no inalterado do vício, ele sorria.
O mundo à volta que se comia. Ninguém notava. Corriam os olhos na gota de suor da moça que a afligia. Sentia a libido a flor da pele. Tua alma agora é quem sentia. Aquilo fazia parte dele. Suspirava profundo a cada gota não atingida.
Ele nem ao menos sorriu. Esticou o seu punho esquerdo e já se entendia do que precisava. Mesmo copo. Mesmo vinho. A oxidação da saliva ao copo demonstrava o fogo de seus olhos.
Pessoas ao fundo cantavam sua origem. Perdiam-se. Retomavam aquilo que haviam deixado para trás. Bem mais que mera melancolia.
Olhavam medonhamente para o lado buscando algo que ostentasse os sorrisos desinteressados daqueles que jamais ouviriam.
As luzes variavam de acordo com a aura daqueles que a sentiam. As batidas imperfeitas e a voz rouca escravizavam os sentimentos isolados que morreram antes mesmo de surgir.
Uma das inúmeras taças estava por acabar quando a música perdeu mais uma vez a entonação ruidosa que lhe agredia os ouvidos.
Com sangue nos olhos, batia forte com os dedos no balcão. Sentia tudo e não absorvia nada. A dormência do seu corpo mais uma vez lhe embriagava.
Oferecer-lhe outro copo? Outra vida? Outro tormento? Ver-lhe, contudo nos limites tolos infringidos pela carne podre?
Seus olhos gritam, comem. Sempre acesos, nunca dormem.
Engasga com a baba e mancha de sangue o tecido camurça sobreposto a camisa vermelho queimado manchado pelo colarinho branco numa longa conversa muda de bar.
Explode e faz dormir por instantes o olhos. Depois se coça com a delicadeza de uma cadela no cio que arrasta seu corpo, mensurada pelo cheiro do macho a sua volta.
Precisa copular. No entanto, se cala.
Tinha ali incontáveis rugas na cara. Os quarenta e poucos anos que lhe devoravam o sentido. Segurava o copo cheio de ganância com seus dedos porcos que deslizavam pela taça ensebada de carnificina humana.
Fareja ali, lembranças das quais nunca viveu.
Morre a cada gole do vinho barato que se importou beber pra fingir ter companhia.
Pedi aos céus naquele momento que me ostentasse a maldade. Gostava de ser puta todas as vezes que se borrava com batom.
O sangue que escorria dos dentes era o mesmo que a fazia engasgar. Sentia um arrepio no peito. Dor imaculada. Tão grande rende-se aos crucifixos rompidos pela desordem.
Os santos reclamavam saúde. Embriagavam-se das lágrimas dos aflitos.
A capacidade do vício que manifesta a falta de controle.
Desrespeito. Descaso. Ao final da noite era o começo do dia. A ria que sobe e não mais molham os pés. Tempos difíceis eram aqueles...
Reclamar ausência nos incontroláveis copos que jamais beberemos juntos. Que tu se corte com o ladrilho quebrado do banheiro imundo.
E ele nem se quer usa o espelho pra se barbear, as lâminas dançam por sua face marcada pelo tempo. Os cortes representam as vezes em que a navalha passeou por seu rosto. As cicatrizes que se calam.
Ela nem sequer sorriu ao ser notada.
Quero a soberania da embriagues quando ousar tocar em meu nome. Boca suja, cheia de plenitude. Quando chega mais perto os anjos se afastam de medo. Tira mesmo a paz. Engorda-te na imundice mundana. Depois te borra de medo ao acordar.
Ouça os gritos desesperados de seu corpo que desvanece encharcado de sangue velho e morto. Morra da mais cruel maneira. Escorrega-te nos ladrilhos sem cor e parte tua cabeça. Juntarei os cacos que sobrou de você. Depois mando para a terra de onde nunca devia ter saído.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Escondi.

E mais uma vez as coisas tomam outro rumo.
Porque esperar se sabe que o sol jamais vai se por da mesma maneira?
Pra que sonhar, já que acordamos e a mobília permanece intacta? Sonhos e não posso ser. Quero a casa cheia de flores de plástico para que eu possa regar com as lágrimas, antes mesmo que sequem.
Ando vagando à procura de onde possa me apoiar. É quando caio. Sangro e me agrido.
Sinto falta da companhia desinteressada. Líamos e ouvimos musicas por todo o dia até que o sol se punha. Por onde você anda? Suas pernas doem? Sorri pra mim? Enche minha vida de luz de novo?
Procuro as esferas que brilhavam na primeira vez em que achei que fui verdadeiramente feliz. Pequei em seus lábios e você sequer percebeu. Pus-me a esperar-te no trem que nem ao menos partiu.
Sinto falta dos abraços. Das conversas que nunca jogamos fora. Essa necessidade de partir, sempre.
Por um momento, feliz. Estou farto de duvidar de tudo. Bebi agora três copos de sei lá o que para esquecer de ti. Fumei dois cigarros e ainda não sumi.
Por onde anda o abraço afobado e a vontade de estar por perto? Corri. Tropecei por várias ruas, chorando sua ausência. Reclamando algo que nunca tive.
Quero de novo a razão que me fazia dormir, me aperta para que eu possa chorar um pouco, ou muito. Faz noite, só o vazio por aqui.
Odeio teu abraço distante. Teus olhos suspensos no ar que me agridem depois de sorrir. Por onde anda o brilho de seus olhos? Porque nunca te vejo sorrir?
Morra agora. Desapareça. Tome-me de volta em teus braços, me faz dormir, ainda é noite. Sinto frio. Cadê você aqui?