terça-feira, 20 de outubro de 2009

O sal

“Veja você, onde é que tudo foi desabar
A gente corre pra se esconder
E se amar, se amar até o fim
Sem saber que o fim já vai chegar ”


A história é interrompida como todas as outras.
Minha maturidade, ou o meu egoísmo, ou a mescla desses dois extremos não me permitem gritar. Esse sofrimento é cálido. Triste. E ao mesmo tempo sublime e incapaz de ser descrito.
Um vazio. Oco. Uma solidão imediata toma conta de toda a carne viva, que agora apodrece trêfega.
Algo que engole e mastiga ao mesmo tempo. Aperta o peito. Um nó dissimulado na garganta. A cara inchada e os olhos vermelhos, e as lágrimas insistem em martirizar um pouco mais. Vontade de gritar. Mas de invisível que sou, engulo cada lágrima salgada antes que escorram pelos lábios e eu seja capaz de sentir o sal.
Mas a esquete ainda não tinha terminado. Os atores estavam se maquiando no camarim. Ela saiu correndo com o batom vermelho borrado pela boca quando soube de tudo. Ou de nada. As coisas terminaram no mesmo acaso em que começaram. A dor é inevitável.
Mas com toda a força de uma vida, segue adiante. O caminho está livre agora. O fim e o começo de uma nova vida, ou a hora de sua morte.
Descanse em paz.
Depois, sorria.

“Abre a janela agora
Deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu...”

7 comentários:

  1. Estava eu lendo "um vazio, um oco" e pensando cá que a solidão devora.. eis que nas próximas palavras, vem tudo "solidão toma conta da carne"....
    as vezes vc descreve coisas que eu tb sinto!

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  2. Você me fala dos olhos pesados de hoje.
    Daqui, eu imagino que a sensação seja a mesma daquela que toma nossos ohos quando o vento os toca desprotegidos por um longo tempo.
    Hoje, especialmente hoje, é o vento do passado.

    Lindo texto.
    Deixe o sal tocar seus lábios.

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  3. Sorria sempre e depois se lembre de viver... Me dizem e me forçam a acreditar em palavras e momentos diversos, mas sei que sou capaz de decidir. Serei capaz de escolher? porque? Não penso em esconder mas uma avalanche seria ótima para terminar, enterrar. A vida! Os amores terrenos nào vividos. Os platonismos constantes... Sempre assim maravilhosamente embriagado! Numa estrada tortuosa e ofegante em cada subida. Lembrando sempre da delirante inclinação e dos prazeres e torturas da queda! Sem deixar que se aproximem... ou não permitir que me olhem. Recuo... na esperança de viver ad eternum a virtualidade das sombras!

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  4. ...e no fim ainda nos regozijaremos na vala rasa, no meio de uma estrada deserta. Enfim sós, como sempre.

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  5. nossa gaaaaaabiiiiiiiiieeeeeeeee....
    adorei o batom borrado nos lábios!!!!
    saudadeeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!

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  6. essa semana eu senti tudo isso, exatamente desta forma que escreveu...
    o distanciar nos faz crer que possamos curar a dor.. ilusão, pois os batons borrados na face serão por si eternos..
    só pra registrar que vc gritou!.. muito mais do que usar a voz em tom alto.. gritar é falar o que se sente de verdade, gritar pode ser esse simples fato de falar as palavras corretas e se libertar, sentir livre..

    grande beijo.. texto perfeito, perfeito, prefeito..

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