Encostou os braços entre as pernas.
Procurava entre as sombras um espaço para se resguardar. Tentava de uma maneira
ou de outra fugir-se.
Olhou diretamente nos olhos. Os seus.
Vivos. Distantes. Indagou. Sentiu. Tornou a fechá-los.
Era musica o que lhe afagara há instantes.
O presente lhe consumia a espinha e a dor dessa vez, acreditava ser nos ossos.
Sustentava-se na tentativa de qualquer equilíbrio.
Erguia os braços, como quem pudesse voar. Tomou pouco mais daquilo que lhe
acalmava a mente. Válvula de escape das emoções que ele já não sabia mais
porque sentia.
Tirou o pó da mala verde, aquela que em
momentos atrás o fizeram mudar de vida. Eram tantos os processos de equidise
que já não lhe cabia mais nos dedos.
Usava dos sentidos para se entender. Sentira-se
novamente de partida. Sentira a partida. E aquilo lhe abalara completamente.
Eram emoções como de quem vai e volta em instante a diversos lugares sem estar
de fato, inteiramente, em nenhum deles.
Buscava entre as cores distorcidas do outro
dia, entender o pra que das coisas e se sentia só.
Buscara a solidão a todo o momento tentando
ou acreditando ser. Sem interrupções saberia o instante exato de parar. Já não
mais precisaria ser exato a ponto de acreditar em suas próprias ponderações. As
coisas fariam por vez sua própria ordem, sem mentiras, nem fatos. Acreditaria
no que quer que fosse para sair dali.
Era tantos ao mesmo tempo em que já não
mais sabia quem ser a cada instante. Indagava-se constantemente. Buscava ser
daquilo que pudesse ousar ser o mais próximo do que acreditava. Nada será como
antes. Cada passo dado ele não mais poderia voltar atrás.
Suportaria quantas perdas mais? Quantas
mais personagens suportaria ele ser? Estava no avesso, desconexo a tudo o que
planejara ser. Viu mais uma vez que não dava pra ser completo.
Sentia o liquido frio saciar-lhe o calor.
Calou-se na espinha. Por dentro fervia. Como se sentisse o sangue coagulado
tentar escapar pela boca. Sangrava. Arrumou a gola da camisa. Examinou detalhadamente
todas as partes do seu corpo, tentava encontrar algo que nem ele mais sabia o
que. Esperava.
Numa mistura de medo e desapontamento
resolveu sair daquela letargia e deixou a água escorrer-lhe a face. Os pingos
disformes lhe molhavam os lábios ainda secos. Deixou-se invadir por completo.
Ou acreditou naquilo que estava (ou tentava) de fato fazer.
Lavou suas mãos, como quem comete um delito
e tenta apagar a prova do crime. Tornou a fazer. Parava, entretanto, para
respirar. Aliviadamente.
Perdera a noção de quanto tempo estava ali.
Fora interrompido como todas as outras vezes que tentou ser. Eram berros que
não se interrompiam. De repente uma chamada para o mundo real. Daquele onde as
pessoas fingem não sentir. Ou sorriem, mesmo sem ter dentes.
Estava ele ali, mais uma vez, desamparado
de si mesmo. Tentando colocar as idéias em ordem. Os sapatos estavam embalados
devidamente. Cada um em seu devido saco. Como todas as outras tantas coisas. Tudo
como planejado. Mas e o que sentia. Como poderia ele definir aquele abraço que
não fora dado no instante em que realmente precisara. Ou dos outros tantos
abraços desajeitados e desnecessários que fingiam lhe afagar, mas que o
sufocavam.
Sufocado, ele tentava soltar o ar entre as
narinas. Algo o prendia. Disforme. Ele tinha medo. Eram olhos para todos os
lados. Ele não os via. Ele os sentia. E sentir fazia lhe tremer todo corpo.
Foram varias as interrupções forjadas. Ele estava ali, fugindo de si pra fingir
ser.
Não estava completo. Driblava ou fingia
estar, o sono, já não sabia se encarava como cura. Ou só estava, como todas às
vezes, fugindo do que lhe fora imposto.
A musica tomava uma sintonia diferente
daquela que ele sentia. Era disforme e aquilo fazia com que ele se sentisse
menos preso. Mas dessa vez, em nenhuma circunstância, ousou voar.
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