terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ar seco.

SAEZ, Damien : « […] Des concerts en sourdine où je chante ton nom pour oublier le mien. Pour oublier un peu que toi, tu n'es pas là quand l'hiver se fait rude. Que je n'ai plus que moi avec qui partager ma propre solitude. […] Moi, je fuyais l'amour parce que j'avais trop peur, oui, trop peur d'en mourir. Mais à trop fuir l'amour, c'est l'amour qui nous meurt avant que de nous fuir. » 

Ouviu seus gritos.
Colocou os óculos mais perto dos olhos pra deixar de ver embaçado. Caminhou sem firmeza nos pés. Quanto mais próximo, mais distante os gritos que se perdiam entre um suspiro e outro.
Na tentativa inútil de matá-lo, corria a poesia pela sua veia. O sangue era vivo. Vermelho intenso e manchava o lençol branco que secava ao vento.
Fechou a porta com voracidade, impedindo que os sonhos escapassem. Era inútil. Foi inútil. Ele desistiu de sonhar depois de perder a voz.
Ele perdeu a voz. Perdeu a consciência e vagava entre um toque e outro do piano.
Sem entender, ele sentia.
Parou de sentir e foi sentar do lado de trás da porta. onde ventava. Fechou os olhos e sentiu a primavera, que o vento insistia em esfregar em seu rosto. 
Fechou os olhos e conseguiu ver o outro. Sofreu pela décima primeira vez. E pela décima primeira vez enxugou as lágrimas antes mesmo delas escorrerem em sua face.
Perdeu os sentidos e aumentou os decibéis. A música invadia a alma. A alma, por sua vez perdeu o fôlego na tentativa de pedir socorro.
Dessa vez ele não conseguiu enxergar o outro e percebeu ausência.
Tropeçou nos sapatos velhos deixados no caminho.
Eram concertos surdos, cantava o nome dele pra esquecer o seu.
Sentia o frio das noites quentes quando ele não estava por perto.
Fechava os olhos tentando ser exato, tentava esquecer a racionalidade e pensava nos lábios que há tempos não sentia. 
Grudou as pontas nos dedos nos cabelos caídos em frente aos olhos, abaixou a cabeça procurando escrever uma historia nova, menos exata, mais intensa e sem barreiras. Era em vão. Não sentia. Não era capaz nem ao menos de controlar sua respiração. Os dedos não corriam na velocidade dos pensamentos.
Era o fim daquilo que criou. Do monstro de si que conseguia ver através do espelho mesmo com as luzes apagadas. Pensava no amanhã como aquela fome de amor que sentira a instantes. Abriria a janela em vão, o vento não retomaria o mesmo curso. Nem ao menos as musicas o tocariam da mesma forma. 
Faria amor com o silêncio e em silêncio se entregaria ao vento, esperando ventar. 
Tentava diminuir um pouco da intensidade da luz que o cegava. Era em vão. Era amor, dor, vontade, tudo junto.
Tinha vontade de cortar o peito e arrancar com as mãos o outro. Mas percebeu que Era o outro inteiramente e que não podia mais fugir, sabendo que já não tinha mais forças para andar.
Fechou o olhos pela décima primeira vez esperando ser tocado nos lábios.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Afinal,

“Me abraça, me aperta
Me prende em tuas pernas
Me prende, me força, me roda...”

eu o quis, com os argumentos de que ele também ousasse querer. A sensação que eu tive é de que os pingos de chuvas chorariam ausência por perder o ar, sufocados pela poeira em que os raios não tragarão. 
O ar, quase que fresco deleitava o que eu estive por sentir. Ora eram mãos e silêncio. Outrora gritos sem toque.
Metástase sem o mínimo de coeficiente em mutação. Eram os seios que jorravam vida, daquela que nunca ousou entregar-se ao mar. “Parece que o mundo foi feito prá nós”. Era sintonia e discórdia. Os olhos queriam bem mais que pudessem ter. Enquanto os corpos entrelaçavam-se tentando nesse aperto, buscar a essência daquele desencontro.
Estavam perdidos entre meios aos trechos curtos daquele teatrinho desconexo que tentavam atuar antes mesmo de o roteiro ser escrito e revisado. E então, os corpos suados se apagaram em meio à força que perderam e sorriram um para o outro, respeitando a intensidade individual.
Não se pode dizer que não houve sonhos. Não se pode dizer que não estavam inteiros, ali, um para o outro. As cicatrizes impostas eram visíveis. Talvez, por essa ou outra razão desconhecida eles tivessem que se abandonar antes do nascer do sol.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A fuga

Travestia-se de sonhos entre um cigarro e outro.
Sua voz soava como algo inesperado, enquanto seu sorriso representava o brilho que tentava esconder nos olhos.
As palavras eram simples, mas profundas, e, indagavam uma vontade inusitada de não querer partir, mas, de forma harmônica, sintetizava o que os lábios sentiam ao se tocarem.
Falavam das coisas que viveram, com a falsa ilusão de se encontrarem entre uma emoção e outra.
As mãos que os empurravam os aproximavam cada vez mais. Era obvia a distancia que tentavam se impor, mas cada toque deixava clara a aproximação.
Cada degrau que subiam, uma mistura de vontade e medo tomava conta dele. Enquanto o outro fechava os olhos e sentia.
Já com a certeza de que iria sentir o cheiro dele pela manhã, fechou as cortinas, para que o vento não espalhasse aquilo que deveria permanecer em silêncio.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

"Fazia frio, nevava em São Paulo..."


Os olhos sorriram de medo. As mãos trêmulas não puderam fazer o contato da derme. Esta tudo aberto. Faz frio aqui. “Juntos morreríamos, pois nos amamos”. A vontade do final da tarde para ver aqueles olhos castanhos brilharem ao encontro dos meus novamente. A alegria da manhã pra ver o sol nascer dentro de mim. Estamos (estou) perdidos em meio a tanta fumaça. Tantos nãos que eu já perdi a veracidade dos fatos. Embalei nos sonhos dele e gritei. Senti as vísceras todas, mas dessa vez do lado externo ao corpo. Gritei de dor ao entender a mutação dos órgãos. Dessa vez não é medo. Já vi muitos desses decepados tête-à-tête. Nada mais me apavora se não minha ausência. Perdi as medidas, já não sei mais onde começa um e termina o outro. E a diferença que se faz presente. A não negação faz meu coração bater mais forte. Eu me pergunto se ainda haverá outra vez. Outra historia, dentro de toda aquela que desenhei e ele não tocou. Uma projeção dos lábios que nunca se viram, mas dos corpos que (talvez) se amem em silêncio. De repente tudo isso é uma alusão do espírito. Mas a carne sangra. Ferida exposta. Carne viva. São as Aguas Vivas (da Clarice) que me interpelam. Sinto vontade dele. O sorriso inteiro, a voz interrompida, as conversas sem sentido atropeladas pela ânsia de ir adiante. O toque das mãos. O vento tocando em seus cabelos. E o seio da essência. Não é desejo. Não é carne, mas sangra. E vontade de pegar nas mãos e ir dançar na chuva. E que não haja chuva. E que chova na gente. Eu espero. Não sei por mais quanto tempo. 
Mas, eu.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sintonia.

Ele sorria. Tracei os sonhos ali. Densos. Frutivos e o nada.
Enxerguei todas as coisas das quais ele não podia me dar. Vivi. Amei. Sofri. Indaguei tudo o que tinha pra viver no instante em que ele sorria.
Ousei pouco mais invadir o eu do sorriso dele. Me perdi. Descobri ali quão doente sou. O é nunca aprende. E. No entanto. Sorrisos não são promessas. Mas porque o silêncio?
Ele sorria em silêncio. Indagava entre uma palavra e outra um suspiro mais contido. Pra ser. Por segundos pareceu-me que o eu do sorriso iria se entregar. Por segundos amei aquele sorriso. E o eu o odiou por todo o sempre.
Porque as coisas são de um eu assim tão profundo. Vai invadindo todo o corpo sem limites. A essência se perde no outro. Na razão de ser. Assim como a esperança do eu de amanhã. Ja não faz mais assim, tanta diferença. O ontém ja esta tão longe de ser o eu presente.
Para que servem os limites? As historias de amor ja estão mais pra estorias. O eu não é se não aquilo que se pode ser. A fada é quem conta o conto e eu confesso estar perdido. Perdi o eu.
Achei que fosse conseguir lidar com essa praticidade toda que é o agora. Mas não eu. Sou aquele. Sou Ser. Sou é. O de sempre. Tão antigo quanto a necessidade de respirar...
Não tem sorriso. Não haverão promessas. O agora é dor. O ser não faz parte do agora. Morro. Peço um tempo pra morrer.
Depois volto. Maduro. Menos intenso. Menos eu. Mais pratico. Aprenderei a dizer não. Não é e não ser. E o eu não vai experimentar o agora. Serei eu dentro do eu, buscando algo mais forte que essa pressão toda de lidar com o ser do sorriso, que na verdade não é eu. E nem faz parte daquilo que o espelho representa. Sou eu e eu aqui estou envolto de palavras e interrupções. So pra tentar ser. Sou eu ou eu sou aquilo que se tem de ser. O eu não pode ser eu. Existem barreiras pra poder ser aquilo que se é.
Existiram és. Mas o agora esta buscando o eu, pra ser. De quantas mais barreiras o é precisa atravessar pra chegar a ser. Não são dois. Ai que esta o problema de ser aquilo que é precisa ser. E que o eu não é e não pode ser.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Natureza morta.

"Ne prenez pas garde à mon teint noir: C'est le soleil qui m'a brûlée"

Fim. Não precisei fechar os olhos pra ver. Está ali. Sentia mas não o via.
Abusava do intenso brilho dos olhos. Sem tempo. Sem respiração. Sem cheiro. Nada.
Estava ali e não estava. O canto. A luz. De uma forma que me pregava nas coisas. Entender o óbvio. Esquecer a fonética das coisas. Embriagar-me dos objetos inanimados. Sorrir ao desconhecido. O novo. O medo. Perguntas. Razões. Respostas. Ou a falta delas. Sonhos. Regressões. Revolta. Causa. Complicações. Desejo. Medo. Sonho. Tristeza. Voz. Silêncio. Vozes. Delitos. Anseios. Esperança. Morte. Ação. Pausa. Movimento. Abuso. Vítima. Poder. Sorte. Medo. Muito medo.
Estava aqui. Agora mesmo. Não. Não estava. Complicações. Revoltas. Taras. Anseios. Ombro. Peito. Costas. Dialogo preso. Peito aberto. Frio. Calma. Dor. Muita dor.
Mescla de poder e barreiras. Humanidade. Sorriso. Dar as costas. Promessas. Tortura. Causa. Efeito.
O óbvio e o seu. Delírios. Amor. Dor. Assim. Sequência. Lágrimas secas. Secas lágrimas. Relógio. Angustia. Saudade. Medo. Morte. Sonhos. Sabores. Toque. Beijo. Carícias. Fidelidade. Eternidade. Sonho. Miséria. A terra se abre. Não o vejo. Porém. Ali estava. Não esta. Objeto. Crenças. Poderes. Dor. Fato. Sequência. Morte. Novo. De novo. Clico. Ganância. Versos. Poesias. Você. Vazio. Vazio. Você.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Voie D

"No dia em que você foi embora eu fiquei sentindo saudade do que não foi"
Lenine

Foi há instantes, mas já não me lembro se outono ou se o frio já tomava conta dessa paisagem delicada e fúnebre.
Olhamos-nos nos olhos como se ainda houvesse esperança. Não nos abraçamos. Os minutos tomaram conta da situação enquanto as evidentes barreiras tomavam forma juntamente os resquícios do que destruimos pra estar ali.
Sentia o inverno no rosto enquanto suas mãos se aproximavam. Tracei os sonhos no vapor e não os tive tempo de viver.
Ele me pediu pra fechar os olhos. Obedeci.
Foram suas mãos que tocaram os meus lábios, como quem precisasse uma forma de medir o desejo.
Não haviam promessas...
Estava cego. E vivia. As estrelas artificiais ultrapassavam as pálpebras. As cadentes. Essas estavam bem longe de acontecer.
E foi assim, nessa esquina, parado, que percebi o seu sorriso.
Agimos como se tudo aquilo existisse a muito. E como muito, mantivemos uma certa distancia real, que só o tempo pode deduzir.
Matei portanto, todas as formas possíveis de esperança antes mesmo que elas ousassem nascer.
De repente, essa vivência intensa de silêncios e presságios deixariam de existir.
Não falamos do amanha, o silêncio era mais forte.
Tentei ser o mais natural possível, mas nessa tentativa deixei de ser eu mesmo tentando ser aquilo que acredita ser o melhor.
A cada segundo, passos inertes. A cada fio de esperança que ousavam nascer eram sufocados pelo frio.
O amor foi-se embora, perdido.
Comemos e bebemos do óbvio até que ele se endormiu nos meus braços.
Não posso organizar sentimentos dessa forma. Empilhados numa prateleira qualquer, como papéis amarelados com o tempo.
Felicidade é endorfina. Sentimento é razão. Somos todos réplicas do medo.

sábado, 4 de dezembro de 2010

pages of the evolution

"Decifra-me ou devoro-te"

As vezes a vida faz você pensar em cinema.
Ficção é bem a palavra que evoca o novo. Alguns precisam de uma certa mudança. Já outros. Maníacos do seu próprio ego, egoístas de suas próprias faunas, criam certas barreiras contra si. Na tentativa de vingança, acabam afundando cada vez mais.
Inúmeras são as perguntas que você têm feito ultimamente a cada manhã no espelho, e, talvez, não no mesmo ritmo, uma outra parte de você foge das marcas cotidianas de expressão. Ignora o seu próprio reflexo.
O problema é bem mais massivo do que se pode pensar. O mercado te joga o produto, e, na maior parte  das vezes é você quem esta em evidência. Essa evolução constante pode ser comparada com o relógio inalterado. Ou seja, você é substituído por uma animada 'coisa'  nova. Perde-se então as medidas da importância de tudo o que fez, de tudo aquilo que você foi ou aquilo que você é desde então.
Do outro lado da rua alguém já deixou pra trás as evidências que eram suas, désormais devaneios e eis que a prova da criação que não passava, non plus, de um sucesso instantâneo que não fará diferença alguma na historia.
A historia, por sua vez, é reflexo da população atual. A mesma que se alimenta de televisão e respira dinheiro. Não há o outro, do outro lado da linha. Pessoas são sinônimos de trabalho, e o que entendia-se por trabalho, verdes cifras. A corrida desenfreada pelo nada.
Linhas aleatórias. Pessoas. Corrida. Tempo. E como colocar em evidência os paranóicos metódicos que entram em estado de calamidade se a marca do suco de laranja reformula a embalagem.
E a casca que importa. A precisão de peso e medida nunca foram tão cruciais quanto ao mal do século.
As pessoas precisam cada vez menos uma das outras que a natureza morta desperta uma beleza viva e real.
Crianças são pequenos exércitos de má vontade e o reflexo disso será bem claro. E se pensarmos no futuro presente, veremos que esses casos rotineiros de violência não passam da falta de limite.
Problemas como a camada de ozônio foram deixados de lado. O que realmente importa nesse momento é a liberdade de violência. Onde a expressão é a liberada falta de bom senso e valores humanos já não passam de ufania.
O século XXI deixou bem claro que o céu agora é cinza e que liberdade é sinônimo de impunidade. Guerras se tornaram tão necessárias quanto ao cotidiano e matinal jus d'orange.
Falta de comunicação é grave. Mas a raiz do problema esta de fato na interpretação dos fatos. Mas investir na educação é também criar contras. E essa demagogia não tem fim.
De um lado a direita, do outro, o social. O capital contra a esquerda. O social gera o capital, que por sua vez, devora o social.
A fome pelo novo nada mais é que a necessidade de virar essas paginas da evolução, deixar o retrogrado apodrecer e a revolução dar suas caras.
Se você pensar no 'novo-rico', vai perceber que a necessidade de mostrar é bem mais forte que a razão de ter. E a disposição do capital adquirido sobrepõe o social.
A liberdade é um passo ao risco. Essa busca desenfreada pelo nada é que faz a ilusória mudança. E não importa se você cuide apenas do 'seu'. Metodicamente, suas intenções atingirão positiva ou negativamente o outro.
A evolução nos faz entender na pratica como é o funcionamento da cadeia alimentar, ou o ciclo da vida.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Evidências

"Aumentei o volume, mas a locução era em húngaro, única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita."
Budapeste - Chico Buarque


Não sei, de repente as coisas ficam assim, sem luz. São vários os caminhos e a busca intensa por uma resposta que não sei onde encontrar. Nem ao menos sei o que busco. Vagueio então, como os pássaros que buscam a luz do sol, e, claridade, no porém e no entanto esta cada vez mais forte.
Congelado em meu próprio frio enlouqueço. Traços os sonhos no vapor formado no espelho e entre meio aos devaneios, choro.
Somos todos em busca de tentar juntar os traços que fazem da nossa vida clausula dos nossos sonhos. Todos nos em algum momento da vida, pelo menos uma vez já bebeu pra esquecer, o que reforça ainda mais esse sentimento de fuga. Fugimos da nossa imagem no espelho como quem foge da solidão, embora nunca admitirmos estarmos incompletos quando estamos só.
A solidão é como um sonho bom que te faz acordar cheio de esperanças, o difícil é pegar no sono depois. Essa mescla de responsabilidade e sacrifícios precisam terminar. Devemos encontrar o ponto de equilíbrio entre os encontros e as despedidas. Ou fingir tornar tudo mais leve. Ter tempo pra observar os pássaros, com a certeza de que alguém nos espera. Não falo de busca, e sim da vontade que tudo isso termine logo. Sei que não da pra ter tudo. Sei. Mesmo não sabendo quase de nada. Mas a questão é não poder juntar só as coisas boas da vida e viver de sonhos. A questão é acordar já sabendo o que será do seu dia e torcendo pra que as coisas não piorem. Uma troca que não ocorre, é você contra o seu tempo, e as horas não passam, por mais que você tente tudo permanece imóvel.

E são os seus olhos que não enxergo mais nos sonhos...
Mesmo quando passamos algum tempo juntos, pareceu tão natural esse perplexo de ficção. Aproximei sem te sentir. Mas sabia que você estava la. Talvez a continuação de um sonho nunca vivido. Mas você fazia parte. Você, de certa forma faz parte dos meus sonhos. Assim como as reminiscência do garoto distraído e completado que fui. Ou que sou. Isso depende de dias.
Você estava la. Eu não te via. E nem você sabia que estava. Mas você esta dentro de mim, e sempre esteve. Uma hora você vai se dar conta de que anulamos tudo por conta de algo que nunca existiu. Barreiras impostas dentro da sociedade que prega valores e ao mesmo tempo interrompe a vida. Democracia extasiada. Peito aberto e desastre. Mortes e corrupção.
Mas não, no sonho, seus olhos perderam o opaco de outrora e voltaram a brilhar. Ainda que aos quinze anos, onde vivemos a cumplicidade de um mundo sem barreiras. Ser criança é, sobretudo não calcular os riscos. As consequências, essas vão depender da forma como você encara a vida. Das experiências que te foram impostas e as mesmas em que você buscou com desejo imenso de aprisiona-las dentro de você, mesmo sendo desconhecidas.
Não faz frio, nem calor, nem o tempo se fixa, é o momento onde devemos andar na corda bamba e saltar à qualquer momento. E de repente, seja o momento de mais um sacrifício pra conseguir algo la na frente. São as experiências, principalmente as que te maltratam com maior voracidade que te fazem ser aquilo que você é hoje. O ser de amanhã pode não depender do hoje, mas sim de um não, que te foi necessário quando criança, mas que você era inotavel e precisou tomar sozinho as mais difíceis decisões da sua vida.
Hoje o medo já não faz mais parte. As grandes coisas já não são mais de grande valia como os caquinhos que a gente recolhe no dia-a-dia. O medo é o amanhã, as rugas na face que vão te mostrar não somente até onde você foi capaz de chegar, mas sim, a cada vez que olhar no espelho, o espelho é que vai te jogar na cara todas as vezes em que teve oportunidade de ser feliz e preferiu dar as costas. Mas esse dia vai chegar e você vai precisar se enfrentar. Existem muitos espelhos. Escolha o seu antes que seja tarde. De repente de um segundo pro outro você volte a ser a criança invisível e chata que sempre foi. Você vai perder o interesse pelas pessoas porque elas deixaram de brilhar. Não haverá, portanto luz pra te guiar. Restara apenas o escuro, e esse não vai te guiar. Não poderá enxergar nem um palmo diante da sua face. Vai precisar se guiar perante todos os conhecimentos que obteve ao longo da vida. Mas não saberá de quais buracos desviar e vai voando para o precipício, esperando que a magica aconteça e que você acorde. Mas ai, você percebe que, na verdade, os sonhos são reais, e, o que parece vida, são apenas reflexos das fugas do eu. Acreditando que odiamos nos outros tudo aquilo que não suportamos na gente.
E esse o tempo que eu proponho. Esse vazio que me faz ter vontade de sair correndo daqui. Mesmo sabendo que a felicidade não existe. E que, afinal das contas, vivemos numa busca desenfreada de tempo. E, quanto mais refletimos mas nos damos conta de tão eloquentes de fato nos somos, fazemos de tudo, o mais complicado possível, mesmo sabendo de antemão que as respostas só podem ser encontradas nas pequenas coisas, nos pequenos prazeres que nos deixamos de viver pra prestar atenção no relógio que roda, repentinamente.
No meu caso essa mescla de desespero é quando a hora não passa. Quero o dia de amanhã. Caminhei demais e me doem os pés. Esqueci a fé, os sonhos e a ânsia de viver pra poder pegar no sono.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Cancer.

"Finalmente vi sua mão soltar da minha, como a de um afogado..."

A tarde estava linda, cheia de sol, de vida enfim, mas com certeza do lado de la as coisas não estariam ao mesmo modo. Fiquei então, pensando em toda dor em que eu fui privado de partilhar por estar longe. Todo o brilho de seus olhos castanhos redondos que eu não verei mais...
Ali, frente ao cair do sol, percebi então, que mais uma vez era hora de por um ponto final na historia, mesmo sem querer que ela acabe. Como um pedaço da gente que apodrece e cortamos fora. Amputação é a palavra e como me sinto agora.
Certamente acabo também, perdendo alguns anos de vida, se bem que as perdas estão acontecendo cada vez mais frequente, como os cabelos brancos...
Percebi e também fingi estar bem, mesmo que o meu coração pulsasse pra sair pela boca. A pior parte de tudo é não poder segurar as mãos e sentir o seu calor de perto.
Os pensamentos atravessam com muita pressa as montanhas em busca de sol, mas morre na praia. O jeito é fingir estar bem para que as coisas não fiquem ainda piores.
Eu não posso decidir nada, de nada. Tampouco sei o que se passa em minha cabeça agora além da imensa vontade de também fechar os olhos...
O meu mundo se escureceu. O céu esta coberto de cinza e eu não sei quando é que poderei me acostumar sem essa parte que sempre me faz tanta falta. Mais perdido que de habito e não sei pra que lado expressar essa minha fúria com a natureza. Não pensei que esse dia pudesse chegar e espero acordar a tempo de perceber que não se passa de pesadelos...
Esperei a minha vida toda pra estar perto. Foram dez anos e seis meses de boas historias. Existem coisas na vida que nos fazem um incompreensivo bem. Partes do quebra-cabeças que nos faz entender que podemos amar sem esperar nada em troca. Juste comme ça.
E os planos de passearmos juntos no parque? Quem fará festa quando eu chegar? Me cobrindo de amores, um amor sincero do qual eu jamais senti na vida...
O que sinto agora é o sal na boca e a saliva amarga.
Ainda sem ar com a noticia de que as coisas não estão nada bem... Por que devemos continuar se faltam partes que completam? Peças essas, importantes para que a nítida imagem da felicidade possa estar completa. Meus pensamentos estão em fase de metástase, assim como meu corpo, recolho os cacos caídos pela estrada. E os nossos planos? E daqui pra frente?
Chega dessas surpresas desagradáveis...
Se eu pudesse... Estaria agora segurando suas mãos até o ultimo suspiro. Pois amor a gente entende, assim... Sem limites. Só amando...
Me perdoa por estar longe. Tão longe que já não pode mais sentir minha presença nesse espaço físico, que esta cada vez menor. Cada vez mais difícil de respirar, não é mesmo? Se entregue a dor e se deixe levar... Estarei aqui, a cada dia, pensando em você, e, te amando cada vez mais sem limites, sem pudor e com saudades, saudade boa, mas que parte ao meio. Dor, angustia e sangue.
Você esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis da minha vida e agora eu não estou ai pra retribuir toda essa cumplicidade.
Entenda, não é egoísmo. Eu tinha planos pra gente, juro que tinha...
Mas existem coisas na vida que não podemos entender. Se chegar seu tempo, vou pedir pra Deus estar com você a todo instante. Você estará então mais próxima de mim e poderá sentir a essência do meu amor por você...
Assim de perto a gente vai longe. Porque não suporto a ideia de não ter você por aqui. Sabe, saudade é algo que a gente cativa  por nos fazer mal, e, quanto mais a saudade aumenta, mais a gente sofre.
E assim, até que que não suportamos mais e o corpo pede pra parar...
Acredito que é o momento em que o espírito pede um pouco de paz. Mas então cada vez em que eu olhar diretamente para o sol, farei com que ardam meus olhos e nessa cegueira poderei te ver ao meu lado.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Não agora.

"Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira."


Estou lutando contra todos os meus demônios. Agora. Na boa companhia do bom vinho. Encorpado e seco.
Penso em saudade mas não as posso consolidar. As coisas não estão em boas frequências, não agora.
A metade vazia esta gritando bem forte nos meus ouvidos, é como se tivesse agua dentro e eu não as posso distinguir. São fluidos sonoros que me dizem besteiras sobre a vida, e o espelho não geme de vaidade, não agora.
Começo a prestar atenção naquilo que me irrita nos outros, e, na verdade não há nada mais nítido que o reflexo infinito. Toda essa falta de estrutura é bem mais externa que interna. O desconhecido causa rejeição e medo e disso tudo eu já estou de saco cheio...
Enchi a taça até a boca, mais não a deixei transbordar, mas é bem melhor ver de frente, tudo completo, mesmo que de vazio.
Faz alguns dias que não consigo ver a lua, tem nuvens por toda a parte, essa é a parte boa e a ma de se estar a tantos e tantos quilômetros acima do nível do mar. A solidão latente e as reservas de vida que a gente espera por chegar...
Saudades dos velhos boleros, das valsas que eu não dancei, do vinho que deixei morrer dentro do copo e que virou vinagre.
O sol voltou, com ele a vontade de buscar a vida, são reflexos de uma bipolar idade aflorada. Falta de sexo no tempo e o contrario já não posso mais. A outra parte de uma mesma cultura, refletida através de uma mesma língua que tento decifrar a cada instante. Medo ou delírio. As coisas parecem mais claras e cada mais complexas. Vejo cada dia mais como a cultura é refletida pela língua que as pessoas falam. E posso dizer que dentro de uma só língua existem varias e varias culturas, desbravadas particularmente cada uma em seu território.
Estou aqui e la, estou em todos os lugares, ao mesmo tempo. A cabeça vai bem mais longe que a capacidade do corpo de acompanhar, mas estamos vivos. Ainda...

domingo, 12 de setembro de 2010

O vento.

"Ce parfum de nos années mortes
Ce qui peut frapper à ta porte
Infinité de destins
On en pose un et qu'est-ce qu'on en retient?
Le vent l'emportera
Pendant que la marée monte
Et que chacun refait ses comptes
J'emmène au creux de mon ombre
Des poussières de toi"
Noire Désir

Ja era tarde, embora tudo tivesse passado tão rapido que eu nem me dei conta de que não havia mais nada o que sentir. A partida foi ainda mais rapida que o tempo de espera.
Não foi nem mais, nem menos intenso que das outras vezes, mas o vento carrega as dores de outrora e tudo o que vem a partir de agora sera bem mais delicado que antes. A pele morta devera tomar seu rumo e me deixar em paz!
O espelho quebrado mostra a face desfigurada depois de tempos sem dizer a que veio. As coisas por aqui são diretas, embora também sigam um certo caminho. A cama de flores não existe mais, deixaremos o petit déjeuner para uma outra estação.
O outono se aproxima. Talvez ainda haja qualquer sorte. Qualquer esperança. Ainda é verão, embora tudo comece a ficar branco, coberto de gelo e as arvores se despedem das folhas que começam a cobrir toda a paisagem noire et blanche da tão distante montanha.
Não tenho feito outra coisa se não pensar em uma maneira de estar bem comigo mesmo. Momento de cuidar do espirito, embora o corpo nos embala a viver.
E tudo novo, e tão velho. E o choque cultural cada vez mais particular, partindo de extremos inconnus quando o sol começa a deixar de 'dar-as-caras' por aqui.
Somos todos perdidos e ao mesmo tempo adressados pelas responsabilidades que na maioria das vezes nos fazem perder o controle.
Por que, se perto do sol é tudo tão frio e delicado por aqui?
Estamos aqui com o corpo, a mente busca uma orientação por meio dessas curvas perigosas e abismos dos quais damos as costas. Tudo vira po em questão de tempo, mas a memoria fica.
Os anseios, os medos, tudo isso fica.

sábado, 17 de julho de 2010

Vin Rosé.

"... o convite do silêncio exibe em cada olhar. Guardei sem ter porque, nem por razão ou coisa outra qualquer, além de não saber como fazer pra ter um jeito meu de me mostrar. Que nunca soube dar o amor que tive e vi sem me deixar sentir, sem conseguir provar, sem entregar. E repartir."
(Nando Reis)

Tirei os sapatos porque estavam ja me apertando os pés, ao mesmo tempo sorri, sorriso largo, escancarado como se tivesse realmente apaixonado. Na verdade so tinha me dado conta que estava me sentindo de alguma forma, feliz... Não posso dizer que não, mas existem rastros de que alguma forma ele mecheu comigo. Talvez a forma diferente de encarar os fatos, as minhas, ou as dele. De repente os dois se encontraram ou seja apenas delirio meu.
Ja era tarde, uma tarde de domingo, havia tanto sol que ardiam os seus olhos, eram tão claros que doiam também os meus, de tão claros, chegavam a ser transparentes...
Ficava sem jeito todas as vezes em que ele arrumava uma desculpa pra me olhar nos olhos. Aqueles azuis como nunca antes haviam entrado aos meus olhos, como forma de hipnose.
Com esse mesmo sorriso largo no rosto, falamos de coisas que nos passavam na mente, como se nós nos conhecêssemos afinco, a conversa fluia e sol continuava la, perpétuo e intacto.
Não me lembro da quantidade de cigarros que ele fumou, na verdade falamos sem parar e todo tempo. Não houve o espaço do silêncio. Estavamos ali e nós dois bem sabíamos o que nos deixara anestesiado quanto ao resto do mundo. Mas nenhum dos dois em momento algum entregaria os pontos. Não foram precisas palavras dificeis, so de se levar deixar pelo vento momentâneo inexistente que os dois criaram... 
Fechei os olhos varias vezes, mas eles permaneceram abertos enquanto eu o observava intensamente, vivemos sonhos que nunca sonhamos... A hora da chegada e da partida. Eu pararia ali, naquela garrafa de rosé. 
O perfume se confundia enquanto os corpos pediam uma certa aproximação que talvez aconteceria mais tarde. Ele tinha o brilho nos olhos, olhos cor-do-céu, como os da infância, talvez pouco mais transparêntes, mais intensos. Os cabelos claros, embora ralos, e a pele mais rosada que ja vi na vida. Usava uma polo rosa e uma bermuda quase-social, como de quem acaba de deixar o terno-e-a-gravata pra respirar um pouco, sabe?
Não demorou muito pra terminarmos com a garrafa, talvez ambos com a  pressa de poder se aproximar ao maximo e de se entregar, sentindo cada pedacinho daquele precioso tempo que percorria o corpo, a alma. Saimos de uma forma ainda mais apressada do que a chegada do local estratégico onde ele tentava de todas as formas ganhar minha atenção. Ele não sabia, mais ja tinha bem mais que isso e poderia sem pudores pular toda essa etapa. De repente, se assim fosse, passaria... 
O elevador parou no primeiro andar, quase ao mesmo tempo em que perdi os sentidos na primeira das muitas vezes aquela noite. Tudo parecia calculado, o meu espaço e o dele, o dele e o meu que não demorou muito a se tornar o nosso espaço...
Me toca verdadeiramente essa forma breve em que o ser humano se entrelaça em outro, buscando a essência e esquecendo medos. Inflingindo a liberdade se prendendo nos braços do outro.
Ele me apertou forte, como quem pedia atenção, foi então que toquei nos seus labios pela primeira vez...

sábado, 29 de maio de 2010

Depressa.

"Meu coração é tão tosco e tão pobre
Não sabe ainda os caminhos do mundo
Quando não estás aqui
Meu espírito se perde, voa longe"
                                         Renato Russo


A cada esquina um novo amor que me acena pra dizer adeus. Não sei, as vezes deduzo em passos, conversas. Eles estão la. Os amores estão la. Eles vem e vão, as vezes vem e ficam. Sempre sorrindo e eles me olham. Me olham nos olhos.
De uma forma que eu não esperava, eram desejos, emoções, aquela musica que a gente escuta, sabe? Tantos desejos, nada correspondido. "A mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante". E bem isso, a vontade de seguir adiante e não poder, medo, acho que é medo.
Medo.
Talvez seja essa tal de solidão que me corroi. Mas não. Eu não acredito mais nisso. Incapacidade de viver a nossa vida pra viver uma outra. Ou o sonho de ser feliz eternamente no amor. A frase de angustia a cada novo sentimento que chega. A vontade de seguir adiante.
Adaptação é a palavra.
E a necessidade de estar com alguém. Alguém que te faça olhar pro espelho e se sentir vivo. Sozinho a gente não é nada.
Nunca,
Olho ao redor. A mistura da magia de do vazio.
O medo me deforma.
Nesse ponto eu concordo com o Oswaldo: "que o medo da solidão se afaste". Além da aceitação do eu, mas é bem mais que isso. Olhar pro errado acreditando ser certo. O que é certo? Aquilo que as pessoas buscam traz como consequencia do que somos. A gente se transforma pelo outro. E são tantos os outros.
Acho que a gente tem que continuar nessa, cotidiano, nada que um bom sono ou musica não mude o entusiasmo. O problema não é perder. Amores, esses chegam e se vão. Cada vez mais rapido, mas sempre o mesmo ciclo.
O problema esta na cicatrização, os planos deixados. Aquela coisa gostosa do relacionamento. As coisas simples é que me fazem falta.
Muito cliché o 'pra sempre'. O regrado. Distinção de sexo. E necessario muito mais ignorância pra gente chegar onde queremos. Como Clarice prega, os bobos é que são os verdadeiros inteligentes.
Creio eu, que inventamos trajédias e transformamos em musica, pra fazer delas depois a nossa trilha sonora. A coisa do distante. Perpétuo, perfeito. Esta tudo tão alterado. O ego anda desfigurado na imagem do personagem quando ele resolve por sorrir. São tantas as besteiras. 
E tantos os porques. O que me pergunto hoje é sobre a saudade. O que me faz falta? Apagar a luz, encostar a cabeça no travesseiro e se sentir além... Voce e mais nada.
Perdi-me no tempo.
Tenho medo dos meus pensamentos. E tenho varios deles me perturbando agora. Me sinto vazio, mas a integridade ainda existe. Quantas as coisas futeis à volta. Tudo tão ridiculo. Dessa vez quero o ridiculo. Experimentar como ficaria o ego sem o objeto estimado.
Amor? Não sei se acredito mais nisso. Quero alguém pra vida toda. Ou não. A saga de acordar e viver as mesmas coisas. A gente aprende a conviver e aturar os fatos, na sua realidade, em questão.
Quero fingir o riso e engolir o choro, como todo mundo.  Ser artista de rua...
Vale a pena essa troca? Sera que aquilo que queremos nos torna aquilo que somos?
Ja havia pensado nisso outras vezes, essa coisa de alcançar objetivos que nem são nossos.
Não da pra acreditar naquilo que não existe. Definitivamente.
São tantos os dessabores, a porta bate a nem nos damos conta.
Sonhos e vontades. Vontade de ir embora, mas a precisão de ficar. Ou mesmo a vontade de ficar e a necessidade da partida. "Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser"
E se do outro lado da linha alguém me escuta, por favor me abraça forte. E não vai embora. Nada é eterno. As vezes acreditamos que queremos algo, mas se na verdade realmente o quisessemos o teriamos.
Mudar doi.
Larga tudo ou os sonhos. Mas e quando não mais se sonha o que é que se busca?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

meias conversas

"O ser humano, hem! O ser humano é estômago e sexo. E tem diante de si uma condenação. Terá obrigatoriamente de ser livre. Mas ele mata e se mata com medo de viver" Amarelo Manga


Eram dois tempos perdidos dentro da mesma metáfora . As tantas exclamações, o novo, a partida. Ela de novo.
Ainda não engoli os voos perdidos, aqueles em que fui obrigado a virar e seguir a vida que não era assim, tão bem projetada, enfim...
E não é que eu ainda consigo ver beleza na estrela cadente que passa pela janela?
Sem nem pensar nos quantos anos ela deixou para tras na sua miseria de séculos de vida. Estava la. Limpa e rispida. Contemplei os instantes em que os olhos puderam capitar. Evitei estar cego ao menos por um instante. Embriaguei-me de luz e concentrei-me no próximo passo. Dentro das luzes que deveriam correr nos meus olhos. Misturei o ontem e o oculto, me perdi nas degustações do presente. Ainda me vejo perdido nas emoções passadas. Como isso é possivel? O tempo passa e as coisas permanecem inertes.
Ela, os labios mais doces. Ele os mais intensos. Nessa selva, o novo, o abismo, olhar pro lado e ver sol. Sem brilho, mais que queima.
Tantas as imperfeições e ela estava la. O tempo todo lá,  talvez perdida nos espaços das horas. Falas mal compreendidas na espera em vão. Estive enquanto pude, fiz companhia talvez até que ela percebe-se a minha presença. Mas em vão eu estava perdido, corri.
Frenetico hábito que hoje percebo quaisquer mudanças, nada de poesia escrita, a gente se beija e sorri depois.
Nada mais natural do que quando se vive. E o verdadeiro sentido disso é pensar que tudo é merda e espalhar para todos os lados. O lado triste da coisa é que não sabemos onde parar, então  continuamos, a cada vez mais embriagados, irresponsáveis, acreditando na fuga, nas falsas emoções.
Me veem filmes na cabeça. Nada daquela ação desapropriada de fatos. Nem mesmo a 'normalidade' de Pedro.
A vida, na sua frequencia, pedindo pouco mais de entusiamo para que mesmo o improvável seja dado como fonte dos principios.
Ele levanta, tenta lavar o rosto cansado enquanto tudo acontece à sua volta. Ainda é jovem e tem todo o pessimismo pra perder, muitas vidas a ganhar. 
Prefere perder-se em paixões momentâneas, mesmo aquele lance do vai-e-vem dos fatos. Onde uma conversa não passa da terceira frase que o outro encerra de forma como se houvessem coisas mais importantes, e sempre há.
Acreditei sorrindo no abraço apertado, agora, nas horas em que faltam para o dia seguinte sem saber a sequência.
Esquete traçada, contrato aberto. No seio do mundo a saudade de todos os dias, a raiva da troca e como consequência alguns mais tropeços em meio as cicatrizes da noite passada.
A esperança do novo dia ainda não morreu.
Ele levanta pela segunda vez, mas dessa vez para olhar para o espelho e tentar se impor que sempre haverão escolhas e por mais sensato que acredita ser acaba deixando mais coisas para traz, bem mais que conquistas.
São todas as cores e cinza, cada um veste a camisa que mais lhe da prazer, afinal tudo é uma mera questão de um ponto. Mais ainda não é o final...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Sorri

"Vai mentindo a tua dor
e ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz"  Djavan

Acho que não, que não digo isso pra todos. De certa forma, o talvez e as lembranças. Ou as mesma do talvez. E não necessariamente com esse mesmo objetivo, a falta. Eu repito, te disse a verdade.
Sorri quando deveria ter gritado, iludi pensamentos com devaneios que não havia provado antes. Me alterei e sorri. O desespero e o novo me encaravam de frente. Talvez o choque. A cultura. Talvez o nada. Olhar no espelho e me ver de costas. Como aquela sombra do que eramos ontem.
Matei o ontem.
Entre o antes e o amanha, escolhi viver o hoje. Tão presente, novo, cheio das reflexões de outrora...
Quisera eu caminhar sem esperar. A busca frequente da paz. Vontade de voar como nos sonhos de infância, que hoje ja não existem mais. Sinto falta do eu de ontem. Acho que poderia ter feito melhor. Talvez o eu de hoje pudera ajudar.
Tão bom seria se as coisas fossem ao contrario: A desilusão e depois o amor. O odio, depois o opio. A dor e o silêncio. Assim como o fogo e o carvão. Aquela gente toda, com aquelas tantas gargalhadas em meio aquele palco adormecido. Quisera eu me permitir entre os braços do vento à caminho do sol. O que resta quando não se ha mais nada à volta se não o melhor do que poderia haver, o encontro dos tres tempos, o que fui, o que sou e que poderei ser.
Olhei para o sol, aquele que não via ha tempo, fiz de mim e senti o corpo arder. Ele ardia pelos encontros perdidos e pelos momentos em que sorri. Os raios do sol contornavam a minha sombra umida e percebi pela primeira vez, que a cada passo que dava me tornava ainda maior. Cheguei a ficar tão grande que o ser de cinco minutos atras deixou finalmente de existir.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Indagações

"O medo sempre me guiou para o que eu quero. E porque eu quero, temo. Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou. O medo me leva ao perigo. E tudo o que eu amo é arriscado." (Clarice Lispector)


A gente da voltas e voltas tentando encontrar aquilo que traduzimos como felicidade. Acho que tenho já uma boa teoria pra isso, bem mais do que belos dentes que sorriem, às vezes é muito mais intenso do que a própria alma deduz. E preciso bem mais do que pegar nas mãos e sair andando por aí...
Cansei dos casais abraçados nas esquinas de bares, alimentando o tédio com uma repugnância intolerável, fingindo viver a paixão dos três primeiros encontros, quando o toque já não faz mais com que as pernas tremam. Pura objetividade em questão engana-se aquele que não se sente só. Nascemos sós, e tão somente vivemos em busca da felicidade, ela mesma, a da questão, que na verdade não passa de instantes em que não refletimos no quanto somos e estamos sufocados. Fragmentos intercalados ao paladar e aroma.
Assim como o amor, a felicidade não passa de arte, aquela arte da tristeza em que os poetas utilizam da própria dor para compor seus poemas de versos eloqüentes. Dentro do percurso imaginário que criamos caminho à destruição. Não, não mesmo. E não entenda todas essas repetições de palavras como pessimismo, às vezes um toque da nossa realidade pode influenciar vivamente e por vez ate mudar essa falta de realismo que entorpecemos ao fingir que a pessoa ao lado realmente esta lá...
Vivemos sozinhos e temos o habito de fingir ser o ideal para o outro, enquanto na verdade não merecemos nada e tudo para onde olhamos força-se um desapego inexperiente... Caímos de novo.
Sempre a espera da boa musica, tudo depende e às vezes é diferente, sabe aquela sensação de que o mundo para quando ele toca seu rosto? Você acorda suado depois de um longo dia em que dormiu acordado, mesclando suas vontades e a realidade de ser e sentir... Totalmente só.
Cada um busca o refugio onde pode, já cansei de trocar os números dos códigos de barra pra ver se a coisa muda, processos de eqüidiste viraram o rotineiro prato de arroz e feijão da América do sul, amamos e não aprendemos. Que espécie de homens é que somos?
Isso vai muito além do de analisar os atos e os ponderar depois, o ajuste não acontece, afinal você não sabe o que se passa na cabeça do outro, que insiste em dizer coisas que te fazem sonhar, palavras lindas, de amor, quanto na realidade nunca esteve lá.
Aprendi a sufocar, mas acabo por sufocado também, umas pessoas só funcionam sob pressão, mais ainda existem aquelas que se assustam com a proposta de dividir os problemas na cama e se refugiam ao sexo barato, mundano, na cama a gente faz sexo, amor à gente faz com as atitudes, as trocas de olhares, o orgasmo pode ser traduzido como cansaço, existem aqueles que se grudam, mais ainda aqueles que viram pro lado e dormem.
Amor? Não... Sinceramente a gente ama aquilo que nos faz mal, quem é que não precisa de uma dorzinha aqui outra ali pra usar de exemplo depois como: ‘Já passei por isso, e até por coisas piores...’ Como medir e comparar algo que nos acontece em diferentes tempos das nossas vidas, se na verdade a cada segundo evoluímos, e não entenda evolução como progresso. Evoluir no sentido de modificar, de ser, estar...
Depois de um tempo só, decidi, naquele momento, antes mesmo dos fogos anunciarem o novo ano, com a mesmice dos anos passadas, decidi que iria me entregar, e porque não amar... Horas mais tarde eu tive mais uma vez a absoluta certeza de que a gente ama a saudade, e sofre por ela. E as pessoas ‘amam’ de intensidade desiguais, afinal ainda não foi inventado o manual do amor, e deve ser por isso que tem sempre alguém que vai se tornar ainda mais inseguro, e no máximo dessa abstinência de segurança própria acaba sufocando o outro, que por sua vez não esperava as pressões daquele momento e resolve por abandonar o barco antes mesmo de erguer a vela.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Joyeux Nöel

"Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda"
(Renato Russo)

Presentes num abuso de emoções, onde voce olha para o espelho e não vê nem sombra de voce. Tanta falta que nem parece real. A vontade de voar...
Quero seguir as estrelas antes mesmo que tudo acabe. O trem ja partiu e as emoções ficaram para traz, tanto, pra nada!
Como a grande e imensuravel vantagem de estar longe de tudo, vontade de chorar tudo, molhar com a mesma lagrima salgada que nos anseia algo que não sei...
Vontade de voltar a ser criança e não pensar, absolutamente.
Esquecer de que existe a saudade , abrir a porta da verdade e redescobrir que é so.
Non mais n'importe quoi et tu seras tout seul, segure as chaves e as guarde. A dor é tamanha talvez não fique por aqui, mas isso também não significa que eu volte.
E melhor estar so do que sentir-se so. A realidade em questão, o choque é grande, mas fazer o que somos, precisamos de endorfina pra viver. Quanto falta? Dorme um pouco que passa.
Primeiro natal, neve, vou conseguir a atenção por instantes, jamais acontecera na alma. Sofra, grite, encare, so encontrara a felicidade quando ver o sorriso, aquele sorriso... Outra vez naquela que chamamos de esperança...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Poema rasgado: "Que seja doce..."

Não sei se a grande parte de palavras que juntei ate hoje daria um bom poema, talvez jogaria tudo fora para formar novos versos. Do contrario pensei que seria melhor quebrar algo existente, pra formar algo novo, uma reclicagem externa forçando o novo! O sal. Talvez tenha sabor de esperança, “que seja doce” do outro lado ele pensaria.
E como o pensamento que voa em busca dos sonhos, eles fizeram planos, mas eram mansos demais para voar, a covardia do novo ou a desilusão do acaso, e porque não. E porque não tentar.
Eles se viram, depois se olharam muito tempo depois, pausadamente! E que faça parte dos seus sonhos, e dos meus! “Que seja doce”. Era tarde, a musica não ajudava em nada. Eram berros embaraçados que não queriam diziam nada. Por ali, ou por depois, existiram.
O acaso os fez enxergar mais do que poderiam seguir em frente. Sonhos! Porque de sonho se morre, e morre jovem! Em contrapartida, ela, a terceira pessoa, na primeira esquete definia a saudade como a falta da memoria ofuscada, e porque nao usurpar aquele sabor adocicado dos momentos que se misturam com a branca neve do jardim?
Sim, a neve caiu, sabemos os dois, os tres, sabemos todos que jogamos a culpa da ansiedade para as coisas banais, ou as que são assim nem tão surpreendentes! Não seria que o habito quem perdeu a razão? Tem neve por todo lado, mas é diferente, aquele rostinho do sorriso gordo não existe mais. (Sinto o cheiro dela por toda parte) mas é com ele que falo das coisas do coração, ela me deixou para passar um pouco de apuros do lado de la. Eu. Eu espero. E com o abraço dela que conto! A abraço leal, a cumplicidade a flor da pele.
Acho que nos habituamos com a ausência e nem sentimos falta. Não acha? Ou fingimos nos acostumar, mas de repente nos acostumamos com as novas diferenças que acabam por rotina, é quando deixa de lado o casulo exposto.
E hora de voar e voce vem comigo.
E  "Que seja doce..."

domingo, 6 de dezembro de 2009

Aqui ou Lá - poesia e prosa

Talvez por não ter ido a fundo, ou por ter caido escada abaixo...
Ele cantava em altos acordes que foi impossivel não deixar tudo de lado pra entoar ensemble. Um pouco mais do pouco que ainda restava e rascunhou coisas que antes pareciam fazer sentido. Quando resolveu por seguir a melodia e sonhar. Do frio so se podia ouvir os gritos, nao chegava à pele, a neve se escondia entre as nuvens e nao chegavam aos olhos. Lembrar era tao facil e as pessoas das quais mais sentia necessidade estavam longe. Eram todas perguntas, sem pontos, sem ao menos as exclamações, E fora tudo embora, ventou.
O vento tem trazido os frutos à terra, e as lagrimas alimentariam ou deveriam saciar aquele ser. Mas ja não era em tempo de comer a nostalgia como prato principal, do lado de ca a liberdade, toujours aprisioné dans le coeur, ça fatigue et le même temps donne l’énergie qui est suffit pour savoir comme les choses sont plus que la nostalgie. A cançao chega ao fim, sem ao menos acabar, aqui ou lá . Estamos ligados por aquilo que chamamos de esperança, e creio que de... Isso basta!
Ouço o silêncio. Essa noite o vento nao fala, como nas outras noites em que era obrigado a chegar as pernas pouco mais proximas do ventre para que o cobertor pudesse ser a valvula de escape. Era forte, ventava, corria as mãos para perto dos ouvidos na tentativa de interromper aquele som que me estremecia! Era a troca da pele, e como doia...

domingo, 25 de outubro de 2009

Desencontros

Je n'ai rien à sentir...

Ele vestiu a sua melhor roupa. A que melhor que lhe cabia naquele momento. Não. Não teve a companhia do seu melhor perfume, que, aliás, havia acabado no encontro passado. Dessa vez saiu em busca daquilo que lhe parecia ser o seu ideal. E sozinho, ele saiu.
Sufocado pelo frio ele não hesitou em pegar seu casaco mais pesado.
Chovia por todo o caminho, mas o frio não era presente. A vontade de seguir. De sentir o fez pensar em ser humano.
Ele pensou em plantar um jardim, mas resolveu levar apenas uma rosa e com o sorriso despido demonstrar que veio em busca de amor.
A rosa. Os chocolates e as duas garrafas do bom vinho tinto. Confesso. Junto à esperança do novo começo, de um novo começo. Ratifico. Depois confesso.
A ansiedade que era bem maior do que a vontade de estar aconchegado naqueles braços que ele ainda não conhecia.
Sem sua capa preta de chuva ele saiu em busca de algo que lhe parecesse pleno. Por instantes se perdeu entre a vontade de ser e estar. Logo se reencontrava solitário numa daquelas ruas estreitas com nomes elegantes onde muitas pessoas, já mortas deviam também já ter passado.
Encontrava-se agora numa esquina qualquer entre o desejo de estar perto e o medo do desconhecido, que a cada segundo se tornava ainda mais desconhecido. As horas? Mais uma vez confesso estar perdido no tempo e esqueci de dizer a princípio que ele deveria ter se atrasado mais onze minutos.
Não tinha nada pra sentir, nem antes. Muito menos agora em que a espera é bem maior do que a vontade, de ser ao menos, visto.
O elevador pequeno, adaptado para apenas alguém solitário como ele, parou. Havia chegado o momento. Mas em qual das tantas portas estaria o talvez grande amor da sua vida?
Entrou meio que rispidamente e não ousou tocar em nada.
Eles não trocaram olhares. Não a primeira vista. Não. A primeira vista não aconteceram olhares perdidos. Eles não estavam apaixonados. As mãos se tocaram por encontro de um pequeno gesto de costume. Algo como quem dissesse: Seja bem vindo.
Ele se ajeitou meio que sorrateiramente no meio do sofá. Talvez tenha escolhido o seu melhor lado. E talvez ele se sentisse pouco menos denso. Pouco menos intenso. Pouco menos drástico. Pouco menos inspirado. Pouco. Menos tudo. Ele não esperava nada além das trocas de olhares sinceros em que algum momento aconteceu.
Mentira. Ele esperava grandes conversas até o amanhecer, talvez observar até que o sol retese a luz da ultima estrela do céu. Isso também não aconteceu. Chovia. Não sei se dentro ou fora dali. Mas chovia. Talvez mais dentro que fora. Era vívido, intenso e ele queria mais.
Sentia frio quando os braços lhe tocaram com certo peso e cuidado. Ele acariciava. Depois parava. Talvez pegasse no sono. Mas não. Não vou saber. E você? Quem sabe.
Ele se vestia pra partir quando resolveu abaixar a cabeça e sentir que as lágrimas correriam. Segurou firme para não chorar. De forte que era. Travestido de esse novo ser cujo coração era de pedra. Não. Cujo coração deveria ser de pedra.
Não fechou a porta e não olhou para trás, pegou seu casado pesado e entrou no mesmo elevador cujo espaço era apenas para uma pessoa. Talvez por isso ele tenha saído com os dois pés no chão. Embora ainda insistisse em querer voar. Embora seu coração batesse tão forte quando ele o tocava. Embora a poucas vezes que ousou tocar nos lábios sentiu que eram de um especial intenso. Único.
Ele partiu. E não há nada de mais, nada a mais o que sentir. Nada mais no que pensar. A não ser no momento em que possa dizer olá uma outra vez. Mesmo que os olhos não se encontrem novamente.
Numa outra vez de sentir seu coração calado bater mais forte e menos frio. Talvez de também sentir o seu corpo quente sobrepondo o dele. Talvez ele pense o mesmo. E talvez eles nunca mais se encontrem. Não há nada para acabar. Nada aconteceu. Repito. Nada.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O sal

“Veja você, onde é que tudo foi desabar
A gente corre pra se esconder
E se amar, se amar até o fim
Sem saber que o fim já vai chegar ”


A história é interrompida como todas as outras.
Minha maturidade, ou o meu egoísmo, ou a mescla desses dois extremos não me permitem gritar. Esse sofrimento é cálido. Triste. E ao mesmo tempo sublime e incapaz de ser descrito.
Um vazio. Oco. Uma solidão imediata toma conta de toda a carne viva, que agora apodrece trêfega.
Algo que engole e mastiga ao mesmo tempo. Aperta o peito. Um nó dissimulado na garganta. A cara inchada e os olhos vermelhos, e as lágrimas insistem em martirizar um pouco mais. Vontade de gritar. Mas de invisível que sou, engulo cada lágrima salgada antes que escorram pelos lábios e eu seja capaz de sentir o sal.
Mas a esquete ainda não tinha terminado. Os atores estavam se maquiando no camarim. Ela saiu correndo com o batom vermelho borrado pela boca quando soube de tudo. Ou de nada. As coisas terminaram no mesmo acaso em que começaram. A dor é inevitável.
Mas com toda a força de uma vida, segue adiante. O caminho está livre agora. O fim e o começo de uma nova vida, ou a hora de sua morte.
Descanse em paz.
Depois, sorria.

“Abre a janela agora
Deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu...”

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O ataque

Como todo final de tarde o sol se põe num tom laranja. Como se tivesse se despedindo pra não mais voltar. Uma volta para o outro lado do oceano. No seu lugar o frio da escuridão que não mais é sombreado pela lua que resolveu tirar férias do lado de cá.
Do lado de lá ele brilha talvez pela ultima vez aquele homem. Tão carregado da idade que o fragiliza. Que a falta de esperança se transforme na paz que deve ser precisa.
Não há armas pra brigar com o tempo. Discutimos com o espelho que nos insiste em mostrar uma realidade cada vez mais morta. A morte das emoções. A morte de um amor. A morte da própria pele que desce ralo a baixo a cada banho.
Essa noite, que a água leve embora metade daquilo que seja.
A equidise necessária. A dor. A perda. Sempre a perda.
E nesse mesmo tom. Na mesma nota. Perco o sono todas as noites pensando em um novo dia que vem a seguir...
A cada dia menos sol. Menos oportunidade para estar perto. E vai se perdendo. A roda do carro vai deixando seus rastros pela estrada enquanto ele canta com toda a dor pra mostrar uma nota maior, que expresse a esperança. Mesmo que morta.
Diga adeus. Depois me beije. Ao partir que deixe a saudade. A falta. Que eu pense em você como o começo e meio. O fim deixa para quando a canção acabar.
É mesmo. Não estarei no momento de mais dor. Não. Não estou ao lado. Como egoísta que sou. Deixei passar. Pra viver o novo olhar. A nova forma. Os novos olhos. O novo ser que acordará amanhã. No momento estou preparado somente para a nostalgia.
Aprendi a morrer a cada dia. Mas não aprendi aceitar que morram. Aceito a minha equidise. A dos outros não.
Ele parte. E se apaga mais uma estrela do céu.
Não sei mais no que pensar. Devo ligar? O que eu faço? Vou correndo em busca de um ultimo abraço? Vai ser em vão.
E depois, qual a imagem que ficará em minha mente? Vale a pena?
Prefiro a covardia a dizer a verdade.
Talvez escute a minha voz e saiba que estive presente ali. Mesmo que ausente.
Mas não. Acho mais importante. Levar comigo o seu nome. Pra que se difunda ao mundo. Se esse será o seu presente. Assim serei. Digo de carregar a geração adiante. Num ré maior de dor. Prefiro que respire lentamente pra não se cansar. Dói demais. E quem fica? E quem cantará a sua canção favorita? E o perdão daqueles que nunca souberam o valor de amar?
Tanta euforia e as pessoas esqueceram-se de pedir a benção e a perderam pra sempre.
Aumenta o som. Se entregue a equidise. Sofra tudo o que for necessário.
Vista sua roupa negra e aguarde o fim. Morra e me leve junto com você.
A cada morte, uma nova nota criada. Surgem as mais estranhas coisas para que o tire de cena.
E eu, cada dia tenho mais certeza de que o tempo passa. A cara muda. Mas a essência não. Estarei longe do seu lado. Perdoa-me, mas o pássaro recusa-se de voar em busca do calor. Prefere enfrentar o inverno que estar por chegar. E se resistir ao inverno. Será mais forte.
Qual seria a ultima vez que viu seus olhos azuis no espelho? Mais que isso, quando foi a ultima vez que sentiu os dourados raios de sol deitar sobre o jardim...
É um misto de fracasso e conquista. Buscarei as forças pra seguir adiante ao nascer do sol de enfeite do lado de cá do oceano.
Brevemente olharei diretamente para o sol e não poderei mais sentir seu calor.
A partir de agora, unicamente peço que respeite esse meu silencio. Essa euforia sufocada e esse medo de seguir adiante.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

nostalgie

Resolvi colocar um ponto, virei para o lado, mas não dormi. Minha mente pairava sobre a falta de razão de ser e entre a vontade de estar. Ele não estava mais ali. O retrato esquecido se apagou com o vento e a chuva. Eu não posso mais. Ultrapassei os limites e ajudei o tempo destruir o que poderia haver de bom. Uma mistura de saudade e vontade sair correndo (pra não mais voltar). Uma distração e cortei o dedo, desisti de tocar piano. Não é amor, assim eu espero. Deve ser desespero. Vontade. Indefinido.Tudo se mistura a vontade de ir adiante e o medo de precisar olhar pra trás. O tempo. A alma. Tanto desperdício para uma construção que pode dar em nada. As horas se passam e a nova rotina consome. Tanto sono desperdiçado. Abraços inalcançáveis e apelo. Vejo fotos pra sentir mais perto. Quando percebo já estou colando-as no mural dos sonhos. A vontade de apertar, feito criança na terra. Sem medo. Afinal, sei lá o que se sabe. É intenso, sempre foi.À hora é essa, os poetas estão perdidos e eu não sei mais o que fazer. Leio as linhas tortas rabiscadas no vidro empoeirado do carro. A chuva não apagou. Mas a caligrafia não é a materna e aqui não há tradução para a “saudade”. Acho que é mesmo pra esquecer o significado. Penso em você, no desencontro, no retrato mal tirado pregado na parede torta.

sábado, 5 de setembro de 2009

Ao entardecer

O barquinho que anda pela ria, as vezes trava. É humano, natural, as vezes erra, as vezes intala.
Desde quando as angústias tem de ser entendidas?
"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio"
Voce não vai perder o avião. Porque já vai estar tudo planejado antes. Voce, com certeza esquecerá de coisas, que antes julgava essencias. Mas até quando é essencial algo que deixamos pra trás? Há momentos na vida em que a vontade que temos é de pular da janela mais alta. Afim de aniquilar não só a dor como esse corpo que se putrefica a cada instante.
"Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável."
Vai, se quiser fica, ou volta. Ninguém pode te crucificar por andar. Afinal, somos livres. E dentro dessa liberdade, as frustrações, porque quanto mais livre, mas sozinho a gente se encontra.
Relacionamentos prendem a gente, eu os evito, por pura covardia os evito, mas reclamo a todo momento pelo telefone que não toca. Pela voz que poderia ter sido doce.

domingo, 26 de julho de 2009

Gritos.

Sentia um nó na garganta enquanto descia por aquelas intermináveis escadas. Os degraus não eram muitos. Mas eles gritavam. Dentro de mim todos aqueles intocáveis demônios gritavam.
Ensurdecido, chorava e não podia falar. A respiração aturdia e aclamava todos os pontos que ali havia.
A roda-gigante colorida girava. Eram quarenta e dois degraus. Com toda a certeza de que eram. Ali, todos misturados junto à carnificina exposta dessa gente imunda. A sala cheia. E a platéia surda que gritava. Interrompiam em um dos cantos os que se tocavam. A menina se cortava enquanto a fumaça formava as bolhas displicentes de agonia. Todos envolvidos pela fumaça branca que se espalhava.
Não sabia qual era mais as cores dos teus próprios olhos. Na verdade nunca soube o que lhe fazia acalmar o espírito, enquanto os demônios aplaudiam a orquestra surda que o calava.
A orquestra falava enquanto a platéia cantava. Todos juntos quando a semântica fora perdida no terceiro degrau do segundo andar. Tropeçava embriagado pela sua própria saliva e o torpor que agredia fazia com que as coisas pairassem no ar e a banda pausadamente interrompia a cena.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cobertor.

Dessa vez foi o silêncio quem interrompeu as próximas falas. Os olhares trocados foram de renúncia, do outro lado, o medo. Ela pensava em como seriam os lábios que não ousaria tocar, depois, o agride.
Ele rasgava os papéis antigos sem pensar em nada. Perdido na esperança de encontrá-la novamente como no ontem, onde nada tinha se alterado. Ausente o ego antes priorizado. Agora as lembranças do café que deixaram de viver juntos no domingo à noite...
As coisas estavam em desordem, e ele pensava em se atirar pra perto, ela, buscando uma maneira de não pensar em nada e fugir.
Ambos choraram.
As malas não estariam prontas para a partida sem o lenço branco pendurado na madeira escura.
Ainda sentia o cheiro dela por toda a parte. Atormentado com os pensamentos não pôde dormir. Pensava tão fortemente nela que seu coração machucado, na ânsia de bater mais forte o fazia gritar...
As indagações e todas as vezes que riram juntos o fazia repensar se estaria errado. Talvez. O melhor seria ele renunciar suas buscas maiores? E ela? Que faria com tanto rumor? Ele trocaria de roupas todas as noites. Ela o veria pela primeira vez vestido. As coisas nunca foram ditas. A barreira. A culpa por não poder ter aquilo que gostaria de ser. Ela num ato de proteção o machucou. Ferido ele não pode mais pensar em nada.
Os verbos tão distintos. O abraço foi rápido, quase que os corpos não se tocam, ele insiste, ela corre.
A imperfeição faz das coisas comuns. Ambos sofrem. Juntos, eles se evitam. Porque amar é tão complicado? Porque as pessoas são tão diferentes a ponto de não poderem firmar seus ideais sem agredir.
Que ela estaria fazendo agora sem ele? As coisas estavam acontecendo a todo instante enquanto ela o deixava partir... A complexidade de aceitar que as coisas são distintas munidas pela cultura do falso moralismo transgredido pela descendência morta de preconceitos e doenças dos olhos e ouvidos não a deixava aceitar que o amava sem medo. E na verdade o medo era algo externo. A pele áspera que só os outros veriam.
Depois de renegar todo um tempo em que passaram juntos. Deixa estar, passando aquele filme onde o ator principal é esquecido entre meio aos rascunhos da gaveta do armário empoeirado.
Ela o evitava olhar nos olhos, enquanto ele a buscava seduzir pela voz triste, era inevitável morrer novamente.
Fora a equidise acirrada, sentiriam os dois na verdade a mesma história com pontos distintos. Mas nem um dos dois abririam mão de suas razões. Um por viver aquilo que a sociedade impõe. O outro por infringir essas tão aclamadas imposições.
A escolha por ser feliz era quem falava mais alto e ditava as regras. Ela, o tentava moldar, na falsa esperança de que o transformaria em argila, mas em vão, quanto mais água ela punha, mais a areia fina escorregava pelos cantos...
Era noite e ele sentia frio enquanto rascunhava seus versos tristes, compostos pela angustia de não poder tocá-la com a mesma liberdade. Coberto pelos desejos era incapaz de adormecer...
O corpo cálido à esperança que morria a cada batida forte que sentia na respiração descontrolada.

“Se és capaz de arriscar numa única parada, tudo quanto ganhaste em toda a tua vida. E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida.”

terça-feira, 30 de junho de 2009

Dualidade

Ela se virou pra Ele e disse em alto e bom som que as coisas não mais teriam jeito e que a partir daquele momento os olhos não mais se cruzariam. Ele pára. Depois perde o fôlego. Respira fundo contando até três. Se as coisas mudam. Ele muda. Ela muda.
Arranca o carro com força procurando por sobrevivência. Não havia outros meios se não declarar que havia perdido. Os sonhos. As noites em que perdia o sono sorrindo. Tanto que cantava enquanto sorria. Agora se engasgava com o abismo criado por Ela.
Por quantas vezes mais terei de passar por aqui caminhando pelo inverso aos meus desejos?
Partir-se ao meio em busca de algo que nem ao menos nasceu? Nessa terra de gigantes nada se planta. As coisas estão maquiavelicamente planejadas. E por isso perdem-se o controle. Comprimidos entre meio a intolerância e Ele não pode mais.
Entretanto Ela parecia pouco mais tranqüila como quem sabe o que faz. Ele, partia do: Nada sei.
Intercala um sorriso com a lagrima que escorre, entra no primeiro táxi que aparece. Me leve ao inferno, aqui eu não volto mais.
O narrador chega completamente atrasado, perdido, força a porta e entra. Os pingos gelados da chuva estão pela casa. Arrasta-se até o primeiro sofá que encontra à espera da personagem principal. Na verdade à espera que algum super-herói saia de uma revista em quadrinhos qualquer e voe em sua companhia quarto andar a baixo. Enquanto pensaria no que fazer com Ela. E com Ele.
Ela chega, o narrador se esconde. Ela vai até a varanda inexistente para fumar o cigarro que nunca comprou.
Ele pára no primeiro bar. Após o efeito que o arranque do carro que lhe causou à cabeça. São feridas fechadas. Ninguém vê. O narrador é que sabe, mas conta a história a seguir. Dessa cuida Ele.
Já com o maço de tabacos que Ela fumaria, no bolso.
A campainha toca agressivamente incômoda.
O narrador sai correndo de cima do sofá pra entender o que se passa.
Umas das mãos doem. Mas ninguém sabe de quem é a mão.
No terceiro toque Ela passa por cima do narrador e nem percebe. Abre aquilo com a voracidade de quem está perdida entre ruas escuras.
Com passos largos Ele sobe ao quarto andar e lhe entrega o maço. Sem palavras, sem lágrimas. Ainda branco Ele invade a cena procurando por equilíbrio.
O narrador chega atrasado. Perde a cena principal esperando a inspiração que andava pela rua a vagar aos becos procurando por Ela.
Ela fuma enquanto Ele come os cigarros.
O tabaco acaba antes mesmo de o narrador interpretar o próximo esquete.
Abraçam-se: o narrador e Ele enquanto Ela pegava as chaves do carro interrompendo-se pelas escadas com seu salto fino.
O barulho era tanto que Ela se viu obrigada a tirar os saltos. Andava como quem buscava o sol no meio da noite. Chovia. Mas não molhava. A pele doente absorvia a dormência dos atos.
Ele se pos a correr logo em seguida. Mas o narrador o segura pelas pernas. As lágrimas escorrem. Perdi.
Ouve a explosão de fato.
Os olhos não mais brilhariam mais naquela noite. O narrador cansado de morrer, tirou Ela de cena.
Ele se sentiu tão só que nem ao menos se deu conta que já se passavam mais de quatro meses.
Partiu em busca de paz.
O silencio foi constante, o narrador agora podia declamar quanto quisesse. Mas sem platéia não haveria e não. Não houve grandes aplausos.
A platéia estava cálida esperando pra saber do final trágico.
Ele volta à cena anterior e o apunhala o narrador pelas costas.
O sangue derretia-se sobre aquele texto mal reproduzido. Enquanto a platéia cantava em memória a Ela.

sábado, 27 de junho de 2009

calor

Somos demasiadamente parte daquilo que não queremos,
engolimos a fumaça dos cigarros dos outros, nunca a podemos tragar...
São seios, rosas e melancolia.
Condeno sim, as mulheres, que se acham humanas e são putas,
Elas não conseguem com o corpo aquilo que se precisa de alma.
Mas de alma, nem mesmo as putas entendem.
É preciso desviar os olhos para seus pudores,
arregaçar a blusa e mostrar mais os peitos.
Assim, não sei mesmo se vale a pena,
São umas, muitas vezes duas as tentativas,
Depois, esquece.

Mas não, despe-me com os olhos e põe-se a lamber a cara,
Cheira as minhas coxas como um cão louco à procura de carne,
Roça me com a alma.
Depois morde-me os lábios pra eu saber tuas intenções,
Sinto falta de falar, da falta de pudor,
Quero os mesmos laços das mordaças que comem as putas,
Bata-me na cara, cuspa seus desejos,
Juntos na cama adormecemos,
Molhados com o que resta do corpo faminto,

Do meu e o teu.

A dormencia que consome,
Pega me no colo,
depois, no sono.
Deixa esse cheiro bom invadir,
assim..

terça-feira, 19 de maio de 2009

O bar.

Falta de apoio. Ele rompia a liberdade. Media os copos do armário como se pertencessem a sua vitrine pessoal de indagações. Perdido no inalterado do vício, ele sorria.
O mundo à volta que se comia. Ninguém notava. Corriam os olhos na gota de suor da moça que a afligia. Sentia a libido a flor da pele. Tua alma agora é quem sentia. Aquilo fazia parte dele. Suspirava profundo a cada gota não atingida.
Ele nem ao menos sorriu. Esticou o seu punho esquerdo e já se entendia do que precisava. Mesmo copo. Mesmo vinho. A oxidação da saliva ao copo demonstrava o fogo de seus olhos.
Pessoas ao fundo cantavam sua origem. Perdiam-se. Retomavam aquilo que haviam deixado para trás. Bem mais que mera melancolia.
Olhavam medonhamente para o lado buscando algo que ostentasse os sorrisos desinteressados daqueles que jamais ouviriam.
As luzes variavam de acordo com a aura daqueles que a sentiam. As batidas imperfeitas e a voz rouca escravizavam os sentimentos isolados que morreram antes mesmo de surgir.
Uma das inúmeras taças estava por acabar quando a música perdeu mais uma vez a entonação ruidosa que lhe agredia os ouvidos.
Com sangue nos olhos, batia forte com os dedos no balcão. Sentia tudo e não absorvia nada. A dormência do seu corpo mais uma vez lhe embriagava.
Oferecer-lhe outro copo? Outra vida? Outro tormento? Ver-lhe, contudo nos limites tolos infringidos pela carne podre?
Seus olhos gritam, comem. Sempre acesos, nunca dormem.
Engasga com a baba e mancha de sangue o tecido camurça sobreposto a camisa vermelho queimado manchado pelo colarinho branco numa longa conversa muda de bar.
Explode e faz dormir por instantes o olhos. Depois se coça com a delicadeza de uma cadela no cio que arrasta seu corpo, mensurada pelo cheiro do macho a sua volta.
Precisa copular. No entanto, se cala.
Tinha ali incontáveis rugas na cara. Os quarenta e poucos anos que lhe devoravam o sentido. Segurava o copo cheio de ganância com seus dedos porcos que deslizavam pela taça ensebada de carnificina humana.
Fareja ali, lembranças das quais nunca viveu.
Morre a cada gole do vinho barato que se importou beber pra fingir ter companhia.
Pedi aos céus naquele momento que me ostentasse a maldade. Gostava de ser puta todas as vezes que se borrava com batom.
O sangue que escorria dos dentes era o mesmo que a fazia engasgar. Sentia um arrepio no peito. Dor imaculada. Tão grande rende-se aos crucifixos rompidos pela desordem.
Os santos reclamavam saúde. Embriagavam-se das lágrimas dos aflitos.
A capacidade do vício que manifesta a falta de controle.
Desrespeito. Descaso. Ao final da noite era o começo do dia. A ria que sobe e não mais molham os pés. Tempos difíceis eram aqueles...
Reclamar ausência nos incontroláveis copos que jamais beberemos juntos. Que tu se corte com o ladrilho quebrado do banheiro imundo.
E ele nem se quer usa o espelho pra se barbear, as lâminas dançam por sua face marcada pelo tempo. Os cortes representam as vezes em que a navalha passeou por seu rosto. As cicatrizes que se calam.
Ela nem sequer sorriu ao ser notada.
Quero a soberania da embriagues quando ousar tocar em meu nome. Boca suja, cheia de plenitude. Quando chega mais perto os anjos se afastam de medo. Tira mesmo a paz. Engorda-te na imundice mundana. Depois te borra de medo ao acordar.
Ouça os gritos desesperados de seu corpo que desvanece encharcado de sangue velho e morto. Morra da mais cruel maneira. Escorrega-te nos ladrilhos sem cor e parte tua cabeça. Juntarei os cacos que sobrou de você. Depois mando para a terra de onde nunca devia ter saído.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Escondi.

E mais uma vez as coisas tomam outro rumo.
Porque esperar se sabe que o sol jamais vai se por da mesma maneira?
Pra que sonhar, já que acordamos e a mobília permanece intacta? Sonhos e não posso ser. Quero a casa cheia de flores de plástico para que eu possa regar com as lágrimas, antes mesmo que sequem.
Ando vagando à procura de onde possa me apoiar. É quando caio. Sangro e me agrido.
Sinto falta da companhia desinteressada. Líamos e ouvimos musicas por todo o dia até que o sol se punha. Por onde você anda? Suas pernas doem? Sorri pra mim? Enche minha vida de luz de novo?
Procuro as esferas que brilhavam na primeira vez em que achei que fui verdadeiramente feliz. Pequei em seus lábios e você sequer percebeu. Pus-me a esperar-te no trem que nem ao menos partiu.
Sinto falta dos abraços. Das conversas que nunca jogamos fora. Essa necessidade de partir, sempre.
Por um momento, feliz. Estou farto de duvidar de tudo. Bebi agora três copos de sei lá o que para esquecer de ti. Fumei dois cigarros e ainda não sumi.
Por onde anda o abraço afobado e a vontade de estar por perto? Corri. Tropecei por várias ruas, chorando sua ausência. Reclamando algo que nunca tive.
Quero de novo a razão que me fazia dormir, me aperta para que eu possa chorar um pouco, ou muito. Faz noite, só o vazio por aqui.
Odeio teu abraço distante. Teus olhos suspensos no ar que me agridem depois de sorrir. Por onde anda o brilho de seus olhos? Porque nunca te vejo sorrir?
Morra agora. Desapareça. Tome-me de volta em teus braços, me faz dormir, ainda é noite. Sinto frio. Cadê você aqui?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Fútil.

Coloquei o espelho virado pouco mais para a esquerda pra ver se algo ainda me atraia naquilo. Inútil. Mas quem é que não vive de certa futilidade? Ouço isso o tempo todo. De todos os lados. Compras. Passagens aéreas. Saudade. Tudo isso misturado. Tão longe. Mulheres que se vestem, outras que se matam, outras tantas putas que se mordem, a vida em qualquer canto. Aqui também existe fome, neuras, mas por aqui também se cala.
Já não mais escolhos os dias. Eles me escolhem e me levam à loucura. Porque sou psicologicamente alterado. Outro deles me disse hoje. Nem sei mesmo se essa é a palavra certa pra colocar aqui.
Trabalho. Sono. Nostalgia. A puta nunca ganhou rosas. Nem eu. E ele? As pessoas vivem de um ‘alternativismo forçado’. E paga alta quantia por isso. Assim se vive. Putas que se comem, passam batom com uma voracidade e o vermelho inunda toda a cara. Putas que se despem, outras que se lambem. Adoro putas. E a sua falta de pudor. Quero mais poesia. Gente louca gritando delírios. Sangue puro. A alma. Quero também você. Porque não?
Os carros estão passando. Pessoas cantando baixinho acreditando não serem ouvidas. Outros olhares que indagam o outro por não conseguir acender o cigarro. Outros cigarros que se perdem sem ao menos serem tragados. Venta demais. Meche o cabelos da puta e os cabelos comprados.
Todo lugar tem vento. Eu acho. Mas não estou bem certo disso.
Percebi que senhora da porta da igreja, pedindo esmolas tava lendo meus lábios enquanto eu te desejava. Mordi então os lábios. Quis expressar ganância. Ela. Acreditava também em não ser notada. Mas meus olhos corriam por tudo. Tudo é obvio e os olhos procuram. Maltratam-se e passa para a próxima, que também passa. Eu? Prefiro olhar. Tenho a poesia correndo nas veias, ainda assim, sou fútil. Tudo isso é clichê. Depois nos olhamos. Mas não nos beijamos. Não dessa vez. Voltávamos embriagados da chuva que caia. E das gotas que molhavam os cabelo encharcados da gordura forçada. Os braços que se encontravam na altura dos ombros. Entrelaçados. Únicos. E os olhos sim, que se comiam. A pele cansada esperava o momento certo. Agredia. Inundava. Depois sentia. De mãos dadas eles se sentiam juntos, mas ainda nem se amavam. E a puta? O Cheiro. Pêlos. Mãos. Corpo. Alma. Vários e vários cigarros. Noite. Céu. Chuva.
Estava todos à volta. Uns que voltavam. Outros que procuravam. Ali estavamos nós, em pé, frente ao mundo, tão pequenos perto daquilo tudo que sentiam os olhos acalmados da puta que se estranhava com seus medos.
Das unhas vermelhas ruídas e os pudores perdidos no sábado que mais uma vez gritei. Depois de sorrir. Mordemos-nos. Depois fizemos amor. Ou o contrário. E nada mais permanece inalterado.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

ainda é primavera.

“Como se a alegria recolhesse a mão pra não me alcançar...”

E lá fora as nuvens continuam contornando o céu formando desenhos que fazem com que eu voe pra longe. E tuas mãos frias insistem em me tocar com força. Não sinto mais o calor do meu corpo. Mórbido. Frio. Calado. Como aquele encontrado numa quinta feira qualquer jogado poeticamente de canto. E não havia flores que contemplassem a sua ardência. Sua solidão. Os olhos corriam por todas as faces que passava. Esbranquiçado do frio, não teria a oportunidade de abrir os olhos e jamais veria a força da flor que nasce ao meio desse gelo todo que há por aqui.
Poderia dormir por dias pra parar de pensar em devaneios, mas não mais contemplaria o brilho do sol que ilumina as arvores. É tão frio desse lado do continente. Ainda é primavera.
Senta aqui mais perto, do meu lado, pode por as tuas mãos em minha perna, e me olhe mais profundamente, mas não se envolva mero descaso.
Aumenta o volume da transpiração, agora afagos de frio, a chuva, o guarda-chuva, carinho. Seria tão romântico, se não trágico, os dois ali, o mundo à volta, a chuva. Não estava mais chovendo, o guarda-chuva serviria inutilmente para manter os corpos mais pertos um do outro. Acreditávamos estar enganando a todos. De fato. Nós. Os únicos iludidos com o perfume da noite.
Disse-me que tenho os olhos profundos, e que inspiram tristeza. Do lado de lá não é bem isso que ouço. Às vezes devo procurar uma força passageira. Que de fato passa.
Tão depressa e perco o trem, quem sabe não pare na próxima estação e o telefone volte a tocar.
Prefiro o silencio. De fato há tanto barulho que não posso mais me concentrar. Vou trocar a bateria. Onde mais devo procurar a essência? O escuro me faz bem, mas a janela da sala de estar está coberta por uma cortina num tom branco sujo e transparente, e tudo passa. Até a noite que acreditei em não ter fim. Procuro a paz no teu silencio. Quando me envolvo. Vamos agora pagar com essa melancolia toda e ir em busca de um copo limpo, novo. Desenbrulha esses chocoltes ai, agora me dá uma porção deles. Uma nova taça daquele vinho rosado da semana passada que me fez rir pouco mais descompensado. Alterado. Nos momentos em que aquele aroma de ‘merda doce’ misturada à palha seca faz-me conhecer novos horizontes para que eu possa novamente me perder. E assim, de novo. Outro sorriso. Talvez uma gargalhada.
“Me de a mão vamos sair, pra ver o sol”
Acho que sinto saudades.

quarta-feira, 11 de março de 2009

ele.

Sinto falta todas as vezes em que me lembro.
Me lembro pelas manhãs em que o sol reflete nostalgia.
Me faz pensar em voce ao entardecer. Lembrando das noites em que vivemos.
Dificil é não te tirar da cabeça. Pra todos os cantos que olho existe um pedaço de voce.
Que me faz recordar e me faz uma falta absurda.
Saudade daquilo que fomos e do que não tivemos tempo pra ser.
Saudade dos beijos nunca roubados, das equidises transpassadas.
Do afeto, dos olhos.
Das nuvens da qual costumávamos cair quando a música acabava.
Dos desenhos do corpo nunca reformulados e do perfume que jamais esqueci.